Publicado originalmente no “Pensatas” em 28 de agosto de 2007, ideal para postar num domingo desses, para se descansar um pouco de genocídios e racismos.
Costumava ler nas fazendas e sítios, quando as estantes ficavam repletas de livros velhos, e, claro de muitos números de Seleções do Reader’ Digest (1), uma publicação “utilitarista” usada pelos Estados Unidos como “propaganda” no auge da Guerra Fria.
No entanto, a revista em formato de bolso, conseguia ter alguma coisa de bom. Seções como as “piadas de caserna”, por exemplo. E “Meu tipo inesquecível”, que sempre me conduziu a pensar no Garamond (2). Não exatamente o tipo de tipo a que se referia a publicação. Mas um tipo, afinal de contas.
Lembro-me também de duas historinhas contadas na revista. Uma delas é a do sujeito que, trabalhando, estava acampado num país da América Central. Numa noite, devidamente instalado no seu saco de dormir, sentiu um movimento estranho. Verifica prontamente que uma cobra havia se instalado em cima de sua barriga. Mas, que cobra? Venenosa? Tudo uma dúvida.
Naturalmente o cara ficou imóvel durante a noite toda. Mal respirava, tal a sua aflição. E não conseguiu pregar os olhos. Pela manhã, ao se aproximar alguém, ele aponta com o queixo para o volume no saco de dormir. Começa um reboliço em torno. O quê fazer? Como saber o que está ali? Enroladinha, obviamente era uma cobra. Mas que cobra?
Resumo da ópera: após muitas e frustradas tentativas, alguém tem a idéia de furar o “saco” e jogar fumaça para dentro. Incomodado o réptil sai devagarzinho do seu “leito” quentinho e aconchegante. Era uma cascavel.
A outra história é a do cão que todo dia ia esperar o seu dono no ponto de ônibus. Um dia, o inglês (morava em Londres) é convocado para a guerra. E morre. O cachorro, porém, continuou a ir diariamente -- no mesmo horário -- esperar o seu dono. Até que um dia, triste da vida, também perece. Esta é de chorar. Por isso mesmo nunca a esqueci. Li a empoeirada revistinha, na casa de campo de uma tia, nos arredores de Petrópolis em uma noite fria, à beira da lareira. Devia ter uns 17 anos...
(1) A revista existe até hoje, mas, confesso que faz muito tempo não a leio.
(2) Garamond é uma fonte tipográfica pela qual sou realmente vidrado. Principalmente na sua versão grifada é o meu “tipo inesquecível”.
Costumava ler nas fazendas e sítios, quando as estantes ficavam repletas de livros velhos, e, claro de muitos números de Seleções do Reader’ Digest (1), uma publicação “utilitarista” usada pelos Estados Unidos como “propaganda” no auge da Guerra Fria.
No entanto, a revista em formato de bolso, conseguia ter alguma coisa de bom. Seções como as “piadas de caserna”, por exemplo. E “Meu tipo inesquecível”, que sempre me conduziu a pensar no Garamond (2). Não exatamente o tipo de tipo a que se referia a publicação. Mas um tipo, afinal de contas.
Lembro-me também de duas historinhas contadas na revista. Uma delas é a do sujeito que, trabalhando, estava acampado num país da América Central. Numa noite, devidamente instalado no seu saco de dormir, sentiu um movimento estranho. Verifica prontamente que uma cobra havia se instalado em cima de sua barriga. Mas, que cobra? Venenosa? Tudo uma dúvida.
Naturalmente o cara ficou imóvel durante a noite toda. Mal respirava, tal a sua aflição. E não conseguiu pregar os olhos. Pela manhã, ao se aproximar alguém, ele aponta com o queixo para o volume no saco de dormir. Começa um reboliço em torno. O quê fazer? Como saber o que está ali? Enroladinha, obviamente era uma cobra. Mas que cobra?
Resumo da ópera: após muitas e frustradas tentativas, alguém tem a idéia de furar o “saco” e jogar fumaça para dentro. Incomodado o réptil sai devagarzinho do seu “leito” quentinho e aconchegante. Era uma cascavel.
A outra história é a do cão que todo dia ia esperar o seu dono no ponto de ônibus. Um dia, o inglês (morava em Londres) é convocado para a guerra. E morre. O cachorro, porém, continuou a ir diariamente -- no mesmo horário -- esperar o seu dono. Até que um dia, triste da vida, também perece. Esta é de chorar. Por isso mesmo nunca a esqueci. Li a empoeirada revistinha, na casa de campo de uma tia, nos arredores de Petrópolis em uma noite fria, à beira da lareira. Devia ter uns 17 anos...
(1) A revista existe até hoje, mas, confesso que faz muito tempo não a leio.
(2) Garamond é uma fonte tipográfica pela qual sou realmente vidrado. Principalmente na sua versão grifada é o meu “tipo inesquecível”.
13 comentários:
Li muitas Seleções, mas também no passado. Pra te dizer a verdade, nem sei a quantas anda atualmente.
E tu me deu uma boa sugestão: vou comprar um número só para dar uma olhadinha. Será que ainda tem Meu Tipo Inesquecível? Ou Piadas de Caserna?
"Seleções de Reader's Digest" era muito lida nos anos 50 e 60. Guió e a centenária Edith tinham a coleção completa. Mas lembro-me que era considerada um 'digest' reacionário, que espelhava a mentalidade americana mais retrógada. Em todo caso, lia sempre que estava a visitar Guió ou Edith e me divertia deveras com algumas 'secções'. Com a efervescência contracultural e política, a partir de meados da década de 60, passou a ser considerada uma revista para pessoas enquadradas na visão do 'american way of life'. 'O Pasquim', em suas charges e comentários, identificava sempre um 'reacionário' como leitor assíduo de Seleções de Reader'Digest. Com o passar do tempo, no entanto, deixei de ler a revista porque não a encontrava. Será que ainda existe? O mundo, de qualquer forma, mudou. "Seleções" refletia muito o espírito de uma época, de uma mentalidade que, mesmo nos EUA de hoje, apesar dos bolsões de neo-conservadores de ultra direita, a citada publicação não teria tanta repercussão. "Reader' Digest" cabia como uma luva como peça cenográfica daquele seriado televisivo chamado "Papai sabe tudo" ("Father Knows Best").
Essa série, dos anos 50, fez muito sucesso no EUA e no resto do mundo. Robert Young era Jim Anderson, um agente de seguros e pai de uma bela família. Todo dia, após o trabalho, Jim chegava em casa, tirava seus sapatos, trocava seu terno por roupas confortáveis e se deparava com os problemas típicos de uma família com adolescentes. Seus três filhos eram suficientes para deixá-lo maluco.
A série se iniciou no rádio, em 1949 e chegou a TV em 1954, ficando no ar até 1960, com um total de 203 episódios. No Brasil a série foi apresentada pela TV Tupi e Globo, nos anos 60 e 70. Aqui em Salvador, a televisão chegou em novembro de 1961 e um dos primeiros programas que vi no aparelho doméstico foi justamente "Papai sabe tudo", que fazia um imenso sucesso em determinado dia da semana. Mas o que tem a ver "Papai sabe tudo" com as "Seleções de Reader' Digest?" Tudo!
Também não sei. Já vi nas bancas mas nunca mais comprei...
Era exatamente isso.
Seleções era o porta-voz do "amreican way of life" e da guerra fria. "Papai sabe tudo', idem.
Assisti muito este seriado nos anos 50 (TV no Rio começou em 1951), pois meu pai comprou um aparelho de televisão em 1954 e era uma festa.
Numa época em que a programação começava lá pelas 11 da manhã e encerrava em torno das 10 da noite.
A TV Tupi (canal 6) era a única transmissora até que surgiu a TV Rio, canal 13 em 1958(?), acho que sim.
Depois veio a Excelcior (canal 2), que revolucionou os programas tendo à frente, entre outros, o Carlos Manga.
A Globo (canal 4) somente estreiou após o golpe de 1964, financiada por grupos estadunidenses. Surgia então o que foi batixada de "o produto mais bem acabado da ditadura" ou a "Venus platinada".
A revista ainda existe. Saiu do Brasil em determinada época, tendo sido por um período editada e impressa em Portugal. Vendia por aí, mas era mais difícil de ser encontrada.
Mas depois voltou para o Brasil e está nas bancas.
Como a Ieda, vou ver se compro uma, hora dessas só pra conferir.
A TV Rio entrou no ar em 1955 e não em 1958 como você´pensou. Foi a emisora em que o Nelson Rodrigues escreveu uma telenovela intitulada A Morta sem Espelho.
Raul Gil, Moacir Franco Chacrinha e Walter Clark também estiveram naquele canal que fez parte da REI (Rede de Emissoras Independentes) que tentava se opor ao monopólio dos Associados.
Tenho um casal de amigos que não só lê como de vez em quando envia-me os prospectos para fazer assinatura, tenho a impressão que há promoções para quem consegue novos assinantes. Nunca me interessei pelos motivos já assinalados, mas gostaria de saber qual a extensão de leitores que as seleções ainda conseguem atingir. Manter-se mais de 50 anos em circulação há que ter publico e interesses.
Jonga sabe contar caso, qualidade imprescindível aos historiadores e publicitários. Vez em quando casos leves que ninguém é de ferro.
Lembro vagamente de ter visto algum número da Seleções quando era bem criança. Me chamou atenção o tamnho da revista, semelhante das revistinhas em quadrinhos que eu lia na época. Achei esranho que 'gente grande' lesse uma revita tão pequenininha.
Obrigado pela correção na data. Eu tinha minhas dúvidas.
Promoções sempre foram o forte da revista.
Hoje em dia a "mala-direta" é muito comum entre nós, mas a Seleções foi dos primeiros veículos a lançar promoções, prêmios e outras coisas. Aplicavam já naquela época fórmulas publicitárias ancoradas no marketing comuns nos EUA, mas eram pouco usadas no Brasil. Hoje, continuam a estratégia em larga escala.
E... obrigado. Procuro sempre dar um "refresco" neste blogue. Como bem o disseste: ninguém é de ferro!
Quer dizer: enquanto você lia a Mônica, Cebolinha e Pato Donald aqueles adultos "esquisitos" liam uma revistinha com um tamanho inadequado.
"Vamos matar e ponto final ", está e a linha de Israel na Palestina, esqueça ONU e o resto do mundo.
Não precisa ir lá, converse com funcionários da embaixada de Israel, aqui no Brasil.Tente press@BRASILIA.MFA.GOV.IL
Obrigado pela dica, Matamático. Ou será Douglas?
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