Gamal Abdel Nasser (foto acima) nasceu em 1918 e foi a contraditória figura que governou o Egito de 1954 até a sua morte em 1970 notabilizando-se por sua política “bonapartista” (1), pela deposição do Rei Faruk I e pela “modernização” não somente daquele país, ao inseri-lo enfim no século XX, como também por marcar o declínio dos impérios coloniais britânico e francês pós II Guerra Mundial. Isto porque ao nacionalizar o Canal de Suez em 1956 provocou a reação daqueles dois países europeus que tentaram intervir militarmente (Guerra de Suez), mas, ao serem desprezados pelas duas novas potências (EUA e URSS) retiraram suas tropas possibilitando a intervenção de uma Força de Paz da ONU.
O papel de Nasser e do Egito na formatação política da região foi fundamental. Sua política facilitou a implantação do Estado de Israel a quem o deposto Rei Faruk se opusera de forma frontal. Porém a sua grande derrota deu-se na famosa Guerra dos Seis Dias em 1967.
Empenhado em colocar o Egito em rota de desenvolvimento econômico, associou-se aos soviéticos para a construção da Represa de Assuã, importante hidroelétrica, na época a maior do mundo.
Após a morte de Nasser em 1970, sucedeu-o Anwar Al Sadat, que governou o país de 1970 a 1981, quando foi assassinado por um soldado fundamentalista islâmico. Sadat expulsou os conselheiros soviéticos em 1972 aproximando a política do Egito dos Estados Unidos. Promoveu uma reforma económica chamada “Infitá” e suprimiu de maneira violenta tanto a oposição política quanto a religiosa, consolidando o “bonapartismo egípcio”.
Em 1973, aliado à Síria, o Egito invadiu Israel e aconteceu a Guerra do Yom Kipur. Embora não tenha resultado num sucesso militar, o conflito representou uma vitória política que lhe permitiu posteriormente recuperar a Península de Sinai e as Colinas de Golan em troca da paz com Israel. Porém o Egito seria expulso da Liga Árabe após a visita de Sadat a Israel, quando negociou a reocupação daqueles territórios.
Hosni Mubarak sucedeu Sadat (era o seu vice) em 1981, está no poder até hoje --passados 30 anos--, e enfrenta no momento uma política de oposição de amplos setores da sociedade egípcia por mudanças políticas e sociais em direção a uma maior democratização. Seu histórico traz uma promoção a marechal por sua atuação na Guerra do Yom Kipur, e posteriormente a comandante chefe da força aérea e, como seu antecessor, é aliado dos estadunidenses, tendo se oposto abertamente a Sadam Hussein quando da invasão do Kuwait.
Mas o que se pode depreender da questão egípcia ao longo deste meio século que nos separam das principais mudanças no seio de sua sociedade?
Se formos estudar as modificações ocorridas na África e a Ásia neste período, vamos verificar que o Egito acompanhou o fluxo da história, seguindo uma modernização após sua descolonização. O surgimento de um estado laico e a consolidação como país independente, não alinhado, que formou com a India de Nehru um movimento pró países do terceiro mundo --ao qual o Brasil aderiu durante o governo João Goulart (1961/1964)--, deu-lhe uma feição particular naqueles anos de guerra fria, à procura de uma terceira alternativa, não alinhada nem com os Estados Unidos nem com a União Soviética.
E a “revolução” por que passa no momento é consequência direta dos acontecimentos na Tunísia e a deposição de Abdine Ben Ali, com reflexos também na Mauritânia, Iêmen e Argélia, que refletem o fim da “chantagem fundamentalista” em que as classes dirigentes estabelecidas nestes países (inclusive o Egito) alegam se perpetuar no poder para evitar que facções radicais do Islamismo assumam a direção.
Estará o Egito iniciando um movimento que pode trazê-lo ao novo século?
(1) O conceito de “bonapartismo” nasceu em 1853, quando foi publicado o livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, escrito em 1852, durante os conturbados acontecimentos que se iniciaram na Revolução de 1848 e tiveram como consequência a farsa representada por Luís Bonaparte ao usurpar o governo francês.
O papel de Nasser e do Egito na formatação política da região foi fundamental. Sua política facilitou a implantação do Estado de Israel a quem o deposto Rei Faruk se opusera de forma frontal. Porém a sua grande derrota deu-se na famosa Guerra dos Seis Dias em 1967.
Empenhado em colocar o Egito em rota de desenvolvimento econômico, associou-se aos soviéticos para a construção da Represa de Assuã, importante hidroelétrica, na época a maior do mundo.
Após a morte de Nasser em 1970, sucedeu-o Anwar Al Sadat, que governou o país de 1970 a 1981, quando foi assassinado por um soldado fundamentalista islâmico. Sadat expulsou os conselheiros soviéticos em 1972 aproximando a política do Egito dos Estados Unidos. Promoveu uma reforma económica chamada “Infitá” e suprimiu de maneira violenta tanto a oposição política quanto a religiosa, consolidando o “bonapartismo egípcio”.
Em 1973, aliado à Síria, o Egito invadiu Israel e aconteceu a Guerra do Yom Kipur. Embora não tenha resultado num sucesso militar, o conflito representou uma vitória política que lhe permitiu posteriormente recuperar a Península de Sinai e as Colinas de Golan em troca da paz com Israel. Porém o Egito seria expulso da Liga Árabe após a visita de Sadat a Israel, quando negociou a reocupação daqueles territórios.
Hosni Mubarak sucedeu Sadat (era o seu vice) em 1981, está no poder até hoje --passados 30 anos--, e enfrenta no momento uma política de oposição de amplos setores da sociedade egípcia por mudanças políticas e sociais em direção a uma maior democratização. Seu histórico traz uma promoção a marechal por sua atuação na Guerra do Yom Kipur, e posteriormente a comandante chefe da força aérea e, como seu antecessor, é aliado dos estadunidenses, tendo se oposto abertamente a Sadam Hussein quando da invasão do Kuwait.
Mas o que se pode depreender da questão egípcia ao longo deste meio século que nos separam das principais mudanças no seio de sua sociedade?
Se formos estudar as modificações ocorridas na África e a Ásia neste período, vamos verificar que o Egito acompanhou o fluxo da história, seguindo uma modernização após sua descolonização. O surgimento de um estado laico e a consolidação como país independente, não alinhado, que formou com a India de Nehru um movimento pró países do terceiro mundo --ao qual o Brasil aderiu durante o governo João Goulart (1961/1964)--, deu-lhe uma feição particular naqueles anos de guerra fria, à procura de uma terceira alternativa, não alinhada nem com os Estados Unidos nem com a União Soviética.
E a “revolução” por que passa no momento é consequência direta dos acontecimentos na Tunísia e a deposição de Abdine Ben Ali, com reflexos também na Mauritânia, Iêmen e Argélia, que refletem o fim da “chantagem fundamentalista” em que as classes dirigentes estabelecidas nestes países (inclusive o Egito) alegam se perpetuar no poder para evitar que facções radicais do Islamismo assumam a direção.
Estará o Egito iniciando um movimento que pode trazê-lo ao novo século?
(1) O conceito de “bonapartismo” nasceu em 1853, quando foi publicado o livro “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, de Karl Marx, escrito em 1852, durante os conturbados acontecimentos que se iniciaram na Revolução de 1848 e tiveram como consequência a farsa representada por Luís Bonaparte ao usurpar o governo francês.
6 comentários:
Você explicou muito bem a situação. Eu não conhecia metade do que contastes.
E eu não contei metade do que precisa ser contado...
Brincadeira. Mas é que tem muito mais a se falar sobre a questão. Quem sabe numa próxima...
Nasser ainda era um 'progressista' que procurava novos caminhos.
Mubarak é um 'baba-ovo' dos norte-americanos alinhado com Israel e as grandes potências.
Gostei da definição... Um "baba ovo" é o que ele sempre foi.
E agora está sendo derrubado por aqueles que o construíram. Tal e qual Sadam Hussein.
Mubarak está no fim. E o "bonapartismo" egípcio idem!
Um longo processo. E na verdade os estadunidenses estão se cagando com o fim de uma "paz" entre "gregos e troianos" naquele conturbada parte do mundo.
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