sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A esquerda pseudotrotskista e a reconstrução da IV Internacional – parte 3


Série “A Reconstrução da IV Internacional”, artigo extraído do Jornal Luta Operária (Maio-Junho/1995) LBI-QI*.

O POR boliviano, outra corrente da família nacional-trotskista, apesar de não ser uma corrente do trotskismo internacional, tem certa influência no movimento de massas da Bolívia, sendo uma caricatura do nacionalismo burguês andino, contra "os gringos e os antipátria" que negam o "papel histórico da Bolívia como centro da revolução mundial". Caracteriza-se por ser uma corrente política oposta ao internacionalismo proletário. Defensora de uma frente popular "sui generis" com setores nacionalistas das forças armadas. Em toda crise política vivida na Bolívia procuram o emblocamento com generais nacionalistas o que vem conduzindo o movimento operário a retumbantes derrotas neste país, como ocorreu em 71.

Em março de 1985, no período em que a Bolívia era sacudida por uma crise revolucionária abrindo uma etapa de dualidade de poder, quando os mineiros tomaram as ruas de La Paz. O POR, ignorando esta realidade, centralizou seu eixo de intervenção nas eleições de julho, lançou centenas de candidaturas, mesmo assim, não conseguiu mais do que um insignificante resultado eleitoral, sendo inclusive penalizado por uma draconiana lei do Estado burguês pelo sofrível desempenho eleitoral. Com o refluxo do ascenso revolucionário na Bolívia, o lorismo resolveu abandonar de uma vez por todas as eleições, rechaçando toda intervenção eleitoral de seu partido; rompendo com o leninismo, adotou o antiparlamentarismo anarquista, aderindo incondicionalmente ao voto nulo. Suas "seções" brasileira e argentina estão metidas em "frentes" com organizações marginais anarquistas produto da quebra do stalinismo e da desmoralização de setores da vanguarda operária.

Dirigido por um caudilho que expulsa, persegue e ameaça militantes que divergem de suas excentricidades, os loristas são opositores da estrutura bolchevique do partido, condenam os militantes profissionais e a hierarquia partidária, a exceção do cargo de Lora é claro. Para esses pequeno-burqueses esquerdistas com uma fraseologia revolucionária o papel da vanguarda bolchevique, do partido dirigente deve ser eliminado e substituído por uma estrutura onde não haja divisão de fronteiras entre dirigentes e militantes de base, ou seja, um reino da plena individualidade militante e da democracia universal dentro do partido. O trotskismo se opõe pelo vértice às concepções pequeno-burguesas do lorismo no terreno programático e organizativo. Trotsky polemizando com um pequeno-burguês, Burnham, ex-militante do SWP norte americano afirmava "você, desta forma, busca uma democracia partidária ideal, que assegure para sempre e para todos a possibilidade de dizer e fazer qualquer coisa que brote na cabeça, e salve o partido da degeneração burocrática. Você esquece um detalhe, ou seja, que o partido não é um campo para afirmação da livre individualidade, mas um instrumento da revolução proletária; que somente uma revolução vitoriosa pode evitar não só a degeneração do partido, mas do próprio proletariado e de toda a civilização moderna. Você não vê que a nossa seção norte-americana não está doente por excesso de centralismo - nos fará rir o fato de mencionar isso — mas foi contagiada por um monstruoso abuso e desfiguração da democracia, por parte dos elementos pequeno-burgueses" (Em Defesa do Marxismo, León Trotsky).

O Lorismo em uma atitude clara de sua política nacionalista abortou a iniciativa de se criar um núcleo internacional do trotsquismo expresso pela TQI. Essa nova corrente internacional composta pelo POR e o PO argentino, organizações que vinham da ruptura com o lambertismo, teve curta existência.

A TQI teve como primeiro acerto político o apoio à ocupação do exército vermelho no Afeganistão identificando nesta uma operação militar em defesa do estado operário soviético ameaçado de ter suas fronteiras vulneráveis pelas guerrilhas apoiadas diretamente pelo imperialismo norte-americano, enquanto a maioria das correntes que se reivindicavam trotsquistas se alinhavam as guerrilhas mujaidinas financiadas pela CIA.

Com a ruptura da TQI por parte do POR, o Partido Obrero não levou a frente a construção de uma organização internacional centralizada, limitando-se a relações diplomáticas de conselheiros com organizações limítrofes como Causa Operária (OQI) no Brasil e o PT do Uruguai.

Infelizmente a direção do PO, que no caso do Afeganistão honrou a posição de Trotsky de defesa do estado operário soviético, nos processos abertos a partir de 89 se adaptou as posições em moda na esquerda. O Partido Obrero, caracterizou a queda dos estados operários do leste e da URSS, que deu lugar a barbárie capitalista, como vitória da classe operária mundial. No documento preparatório ao VIº congresso PO afirma: "A derrubada dos regimes políticos burocráticos do leste, a queda do muro de Berlim e a desagregação da ‘federação’ soviética são episódios políticos revolucionários de alcance europeu e internacional.". Trotsky em um de seus últimos combates contra as posições pequeno-burguesas que se expressavam no interior da própria IV internacional se opõe pelo vértice a análise de PO quando afirma: "Não podemos perder em um só momento de vista que a derrubada da burocracia soviética está subordinada a preservação estatal dos meios de produção na União Soviética, e que a questão da manutenção da propriedade estatal está subordinada para nós a questão da revolução proletária mundial".

Enquanto a maioria das correntes pseudotrotskistas em nome da luta contra a burocracia estalinista traíram a defesa do estado operário a Liga Espartaquista (LCI), organização que rompeu com o SWP americano na década de 60 é a demonstração de como uma organização em nome do defensismo subordina-se politicamente ao stalinismo. O espartaquismo assumiu por décadas o papel de agência oficiosa do stalinismo nos EUA em função da covardia do PC norte-americano em representar fielmente a burocracia do Kremlin no centro do imperialismo mundial. Apoiaram o massacre criminoso dos estalinistas poloneses, emblocando-se com Jaruzelsky contra o levante dos operários poloneses em 1980. No golpe de agosto de 1991, na URSS, omitiram de seu programa qualquer denúncia ao bloco dos oito como outro setor também abertamente pró-capitalista da burocracia, não reivindicando uma saída operária independente diante dos restauracionistas de farda frente o contragolpe de Yelstin.

Não há nestas correntes pequeno-burguesas que falseiam o trotskismo nada de progressivo para o conjunto do movimento operário internacional. Sua política é um beco sem saída e só sua denúncia, delimitação e superação programática fará avançar a luta operária pela revolução socialista. Seus programas são a expressão da defesa acobertada da democracia burguesa e de um falso socialismo democrático que se opões em todos os sentidos à defesa trotskista da ditadura do proletariado. Sua política de apoio à frente popular é a prova histórica da completa incapacidade de construir uma organização independente do proletariado mundial sobre o programa da IV Internacional.

A tarefa imediata do proletariado mundial é a reconstrução do Partido da Revolução Mundial, a IV Internacional. A luta pela construção do instrumento que fará a revolução se impõe alicerçado sobre o programa marxista-revolucionário demarcando o campo de classe com os defensores da frente popular e os pseudotrotskistas. A construção do partido da vanguarda revolucionária não pode se dar sob a forma de acordos e fusões conjunturais antiprincipistas, baseados na revisão do trotskismo e na crítica da estrutura de combate do leninismo. Os militantes honestos da vanguarda operária devem cerrar fileiras na tarefa histórica que o proletariado mundial lhes coloca, levantando com toda força a bandeira do internacionalismo proletário, da vigência da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sob o programa da IV Internacional. Essa tarefa nós da LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA estamos firmes em abraçá-la.

(*) Liga Bolchevique Internacionalista – Quarta Internacional


9 comentários:

Nun'Alvares disse...

Esta série é objeto de registo...

Joelma disse...

Lev Davidovitch Bronstein era um revolucionário muito sério.
Não merecia que sua iniciativa acabasse do jeito que está hoje!

Misael disse...

Como já disse Joelma. o problema da IV Internacional é a divisão! Ela sofreu várias cisões ao longo de sua história: a primeira em 1940, que ocorreu somente na França, e a mais importante, que se deu no plano internacional, em 1953. Apesar de uma reunificação em 1963, vários reagrupamentos internacionais reivindicam a IV Internacional e a herança trotskista.

A fundação da !V Internacional foi vista como mais do que a simples mudança de nome de uma tendência internacional já existente. Argumentou-se que a III Internacional havia se degenerado por completo e, portanto, deveria ser vista como uma organização contra-revolucionária que, em tempo de crise, defendia o capitalismo. Trotsky acreditava que a vinda da Segunda Guerra Mundial produziria uma onda revolucionária de lutas de classe e nacionalistas, assim como a Primeira Guerra Mundial tinha feito.1

Stalin reagiu à crescente influência dos adeptos de Trotsky com um grande massacre político na União Soviética, além de patrocinar o assassinato de apoiadores e familiares de Trotsky que viviam em exílio no exterior. Agentes do governo revisaram documentos históricos e fotografias na tentativa de apagar a memória de Trotsky dos livros de história.16 De acordo com o historiador Mario Kessler, os partidários de Stalin recorreram ao antissemitismo para exaltar os ânimos contra Trotsky, de família judia.17 De acordo com Svetlana Alliluyeva, filha de Stalin, a batalha de seu pai contra Trotsky lançou as bases para suas campanhas antissemitas posteriores.

Anônimo disse...

Muito bom!

Tavim

Raul Queiroga (Buenos Aires) disse...

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (LIT-QI)

O objetivo central desta corrente em seus inícios era estruturar-se na fábricas tentando superar o caráter marginal, e intelectual do movimento trotskista argentino.

Descreve seus primeiros tempos como tendo um desvio obreirista, sectário e propagandista: não fazia trabalho entre os estudantes e o eixo da atividade era dar cursos sobre o Manifesto Comunista e outros textos clássicos. Entre 1944 e 1948 reconhece também um desvio nacionalista, em suas palavras "acreditar que havia solução para os problemas do movimento trotskista dentro de seu próprio país" (Un Breve Esbozo de la Historia de la LIT-CI).

Apenas em 1948 começaria a participar na vida da IV Internacional, em seu Segundo Congresso. Segundo o mesmo documento (Esbozo, 2008): "A intervenção nas lutas operárias e na IV Internacional tornou possível a superação dos desvios e o fortalecimento do grupo".

Mário disse...

Quantas partes mais teremos desta excelente série?
Espero que muitas, pois é de grande qualidade, mesmo.

Anônimo disse...

Mas se todas as frações da IV se dizem as únicas autênticas, como você pode garantir que esta 'Liga Bolchevique Internancionalista-QI' é a mais alinhada com o pensamento de Trotsky?

L.P.

Jonga Olivieri disse...

Luiz. Tenho simpatias pela LBI-QI, mas, veja bem, não sou militante, tão somente um simaptizante; porque atpe concordo com você: cada fração puxa a brasa para sua sardinha...

Chara disse...

This is cool!