Série
“A Reconstrução da IV Internacional”, artigo extraído do Jornal Luta Operária
(Maio-Junho/1995) LBI-QI*.
O POR boliviano, outra
corrente da família nacional-trotskista, apesar de não ser uma corrente do
trotskismo internacional, tem certa influência no movimento de massas da
Bolívia, sendo uma caricatura do nacionalismo burguês andino, contra "os
gringos e os antipátria" que negam o "papel histórico da Bolívia como
centro da revolução mundial". Caracteriza-se por ser uma corrente política
oposta ao internacionalismo proletário. Defensora de uma frente popular "sui generis" com setores
nacionalistas das forças armadas. Em toda crise política vivida na Bolívia
procuram o emblocamento com generais nacionalistas o que vem conduzindo o
movimento operário a retumbantes derrotas neste país, como ocorreu em 71.
Em março de 1985, no período em que a Bolívia era sacudida por uma crise
revolucionária abrindo uma etapa de dualidade de poder, quando os mineiros
tomaram as ruas de La Paz. O POR,
ignorando esta realidade, centralizou seu eixo de intervenção nas eleições de
julho, lançou centenas de candidaturas, mesmo assim, não conseguiu mais do que
um insignificante resultado eleitoral, sendo inclusive penalizado por uma
draconiana lei do Estado burguês pelo sofrível desempenho eleitoral. Com o
refluxo do ascenso revolucionário na Bolívia, o lorismo resolveu abandonar de
uma vez por todas as eleições, rechaçando toda intervenção eleitoral de seu
partido; rompendo com o leninismo, adotou o antiparlamentarismo anarquista,
aderindo incondicionalmente ao voto nulo. Suas "seções" brasileira e
argentina estão metidas em "frentes" com organizações marginais anarquistas
produto da quebra do stalinismo e da desmoralização de setores da vanguarda
operária.
Dirigido por um caudilho que expulsa, persegue e ameaça militantes que
divergem de suas excentricidades, os loristas são opositores da estrutura
bolchevique do partido, condenam os militantes profissionais e a hierarquia
partidária, a exceção do cargo de Lora é claro. Para esses pequeno-burqueses
esquerdistas com uma fraseologia revolucionária o papel da vanguarda
bolchevique, do partido dirigente deve ser eliminado e substituído por uma
estrutura onde não haja divisão de fronteiras entre dirigentes e militantes de
base, ou seja, um reino da plena individualidade militante e da democracia
universal dentro do partido. O trotskismo se opõe pelo vértice às concepções
pequeno-burguesas do lorismo no terreno programático e organizativo. Trotsky
polemizando com um pequeno-burguês, Burnham, ex-militante do SWP norte americano afirmava "você,
desta forma, busca uma democracia partidária ideal, que assegure para sempre e
para todos a possibilidade de dizer e fazer qualquer coisa que brote na cabeça,
e salve o partido da degeneração burocrática. Você esquece um detalhe, ou seja,
que o partido não é um campo para afirmação da livre individualidade, mas um
instrumento da revolução proletária; que somente uma revolução vitoriosa pode
evitar não só a degeneração do partido, mas do próprio proletariado e de toda a
civilização moderna. Você não vê que a nossa seção norte-americana não está
doente por excesso de centralismo - nos fará rir o fato de mencionar isso — mas
foi contagiada por um monstruoso abuso e desfiguração da democracia, por parte
dos elementos pequeno-burgueses" (Em Defesa do Marxismo, León Trotsky).
O Lorismo em uma atitude clara de sua política nacionalista abortou a
iniciativa de se criar um núcleo internacional do trotsquismo expresso pela
TQI. Essa nova corrente internacional composta pelo POR e o PO argentino,
organizações que vinham da ruptura com o lambertismo, teve curta existência.
A TQI teve como primeiro
acerto político o apoio à ocupação do exército vermelho no Afeganistão
identificando nesta uma operação militar em defesa do estado operário soviético
ameaçado de ter suas fronteiras vulneráveis pelas guerrilhas apoiadas
diretamente pelo imperialismo norte-americano, enquanto a maioria das correntes
que se reivindicavam trotsquistas se alinhavam as guerrilhas mujaidinas
financiadas pela CIA.
Com a ruptura da TQI por parte
do POR, o Partido Obrero não levou a
frente a construção de uma organização internacional centralizada, limitando-se
a relações diplomáticas de conselheiros com organizações limítrofes como Causa
Operária (OQI) no Brasil e o PT do Uruguai.
Infelizmente a direção do PO,
que no caso do Afeganistão honrou a posição de Trotsky de defesa do estado
operário soviético, nos processos abertos a partir de 89 se adaptou as posições
em moda na esquerda. O Partido Obrero,
caracterizou a queda dos estados operários do leste e da URSS, que deu lugar a
barbárie capitalista, como vitória da classe operária mundial. No documento
preparatório ao VIº congresso PO afirma: "A derrubada dos regimes
políticos burocráticos do leste, a queda do muro de Berlim e a desagregação da
‘federação’ soviética são episódios políticos revolucionários de alcance
europeu e internacional.". Trotsky em um de seus últimos combates contra
as posições pequeno-burguesas que se expressavam no interior da própria IV
internacional se opõe pelo vértice a análise de PO quando afirma: "Não podemos perder em um só momento de
vista que a derrubada da burocracia soviética está subordinada a preservação
estatal dos meios de produção na União Soviética, e que a questão da manutenção
da propriedade estatal está subordinada para nós a questão da revolução
proletária mundial".
Enquanto a maioria das correntes pseudotrotskistas em nome da luta
contra a burocracia estalinista traíram a defesa do estado operário a Liga
Espartaquista (LCI), organização que
rompeu com o SWP americano na década
de 60 é a demonstração de como uma organização em nome do defensismo
subordina-se politicamente ao stalinismo. O espartaquismo assumiu por décadas o
papel de agência oficiosa do stalinismo nos EUA em função da covardia do PC norte-americano em representar
fielmente a burocracia do Kremlin no centro do imperialismo mundial. Apoiaram o
massacre criminoso dos estalinistas poloneses, emblocando-se com Jaruzelsky
contra o levante dos operários poloneses em 1980. No golpe de agosto de 1991,
na URSS, omitiram de seu programa qualquer denúncia ao bloco dos oito como
outro setor também abertamente pró-capitalista da burocracia, não reivindicando
uma saída operária independente diante dos restauracionistas de farda frente o
contragolpe de Yelstin.
Não há nestas correntes pequeno-burguesas que falseiam o trotskismo nada
de progressivo para o conjunto do movimento operário internacional. Sua
política é um beco sem saída e só sua denúncia, delimitação e superação
programática fará avançar a luta operária pela revolução socialista. Seus
programas são a expressão da defesa acobertada da democracia burguesa e de um
falso socialismo democrático que se opões em todos os sentidos à defesa
trotskista da ditadura do proletariado. Sua política de apoio à frente popular
é a prova histórica da completa incapacidade de construir uma organização
independente do proletariado mundial sobre o programa da IV Internacional.
A tarefa imediata do proletariado mundial é a reconstrução do Partido da
Revolução Mundial, a IV Internacional. A luta pela construção do instrumento
que fará a revolução se impõe alicerçado sobre o programa
marxista-revolucionário demarcando o campo de classe com os defensores da
frente popular e os pseudotrotskistas. A construção do partido da vanguarda revolucionária
não pode se dar sob a forma de acordos e fusões conjunturais antiprincipistas,
baseados na revisão do trotskismo e na crítica da estrutura de combate do
leninismo. Os militantes honestos da vanguarda operária devem cerrar fileiras
na tarefa histórica que o proletariado mundial lhes coloca, levantando com toda
força a bandeira do internacionalismo proletário, da vigência da revolução
socialista e da ditadura do proletariado, sob o programa da IV Internacional.
Essa tarefa nós da LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA estamos firmes em
abraçá-la.
(*) Liga Bolchevique Internacionalista – Quarta
Internacional
9 comentários:
Esta série é objeto de registo...
Lev Davidovitch Bronstein era um revolucionário muito sério.
Não merecia que sua iniciativa acabasse do jeito que está hoje!
Como já disse Joelma. o problema da IV Internacional é a divisão! Ela sofreu várias cisões ao longo de sua história: a primeira em 1940, que ocorreu somente na França, e a mais importante, que se deu no plano internacional, em 1953. Apesar de uma reunificação em 1963, vários reagrupamentos internacionais reivindicam a IV Internacional e a herança trotskista.
A fundação da !V Internacional foi vista como mais do que a simples mudança de nome de uma tendência internacional já existente. Argumentou-se que a III Internacional havia se degenerado por completo e, portanto, deveria ser vista como uma organização contra-revolucionária que, em tempo de crise, defendia o capitalismo. Trotsky acreditava que a vinda da Segunda Guerra Mundial produziria uma onda revolucionária de lutas de classe e nacionalistas, assim como a Primeira Guerra Mundial tinha feito.1
Stalin reagiu à crescente influência dos adeptos de Trotsky com um grande massacre político na União Soviética, além de patrocinar o assassinato de apoiadores e familiares de Trotsky que viviam em exílio no exterior. Agentes do governo revisaram documentos históricos e fotografias na tentativa de apagar a memória de Trotsky dos livros de história.16 De acordo com o historiador Mario Kessler, os partidários de Stalin recorreram ao antissemitismo para exaltar os ânimos contra Trotsky, de família judia.17 De acordo com Svetlana Alliluyeva, filha de Stalin, a batalha de seu pai contra Trotsky lançou as bases para suas campanhas antissemitas posteriores.
Muito bom!
Tavim
Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (LIT-QI)
O objetivo central desta corrente em seus inícios era estruturar-se na fábricas tentando superar o caráter marginal, e intelectual do movimento trotskista argentino.
Descreve seus primeiros tempos como tendo um desvio obreirista, sectário e propagandista: não fazia trabalho entre os estudantes e o eixo da atividade era dar cursos sobre o Manifesto Comunista e outros textos clássicos. Entre 1944 e 1948 reconhece também um desvio nacionalista, em suas palavras "acreditar que havia solução para os problemas do movimento trotskista dentro de seu próprio país" (Un Breve Esbozo de la Historia de la LIT-CI).
Apenas em 1948 começaria a participar na vida da IV Internacional, em seu Segundo Congresso. Segundo o mesmo documento (Esbozo, 2008): "A intervenção nas lutas operárias e na IV Internacional tornou possível a superação dos desvios e o fortalecimento do grupo".
Quantas partes mais teremos desta excelente série?
Espero que muitas, pois é de grande qualidade, mesmo.
Mas se todas as frações da IV se dizem as únicas autênticas, como você pode garantir que esta 'Liga Bolchevique Internancionalista-QI' é a mais alinhada com o pensamento de Trotsky?
L.P.
Luiz. Tenho simpatias pela LBI-QI, mas, veja bem, não sou militante, tão somente um simaptizante; porque atpe concordo com você: cada fração puxa a brasa para sua sardinha...
This is cool!
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