Conheci bem a Galícia (que os lusos chamam de Galiza). Sua proximidade com a cidade do Porto nos empurrava atrás de um modo de vida más caliente bem pertinho de nós. Gostava muito de Portugal, mas, sem dúvida nenhuma, para nós brasileiros, a Espanha tem um “agito” com o qual nos identificamos; que nos agrada e encanta.
De todas as cidades galegas, a que mais vezes fomos foi Vigo. Primeiro porque sua beleza natural é inconfundível. E em seguida porque íamos ao Consulado português onde corriam os nossos processos de legalização da permanência em terras de Portugal. Ficávamos sempre no Hotel Compostela – bem próximo ao centro da cidade –, ao lado do ancoradouro de barcos e iates. Algumas vezes ficamos em um quarto no último andar (uma água furtada), e, pela manhã, as gaivotas nos acordavam com sua agitação matinal. Lindo... de ver e ouvir!
Mas, Vigo tem também uma baía muy hermosa. Quando se atravessa a exuberante ponte pênsil na autorota, o visual é de um azul profundo, e o mar repleto de barcaças, também repletas de frutos do mar. Vigo é um dos maiores centros produtores dos crustáceos e moluscos de toda a Espanha. Surpreendentemente a melhor paella à valenciana que eu comi foi lá, e não em Valencia.
No entanto, não é somente a baía de Vigo que é tão bela assim. Todo o litoral galego é esplendoroso. Sua costa é um privilégio dos que a habitam e dos que a conhecem. E o interior? O verde, tão raro em outras regiões de uma Espanha semi-árida, compensa-se por inteiro na Galicia. Aliás, uma característica de todo o norte daquele país, o que inclui tambem a região basca e o Principado de Astúrias.
Santiago de Compostela e La Coruña também são cidades imperdíveis. Apesar do “fanatismo” e do “esoterismo” (1) religiosos, Santiago, como contraponto é um importante centro universitário e suas ruelas antigas respiram cultura e saber. O mais impressionante é que você pisa em um solo onde tantas gerações pisaram, estudaram, aprenderam, ensinaram. Amadureceram conhecimento humano e lógico, filosófico e matemático... A outra, em galego “A Coruña”, é também uma cidade abençoada pelos deuses. Somente a Torre de Hércules, monumento romano do século I, inteirinha até hoje, prova sua importância histórica.
A música é outra característica marcante da Galicia. Seu ritmo lembra a melodia irlandesa, característica, sem dúvida, da presença céltica em ambos os países. A gaita de fole, muito semelhante à usada pelos escoceses tem um som que nos envolve por completo. E, finalizando, a Fala (2), o que mais nos aproxima do galego. A Fala é muito mais próxima do português que do castelhano. Mujer é mulher. E, curiosamente trocam o “J” pelo “X” . Como Ximenes, ao invés de Jimenes. Ou Xunta de Galicia, ao invés de Junta de Galicia.
Assim é a Galícia. Um pedaço da Espanha que nós tivemos a oportunidade de conhecer muito bem. E deixou saudades; numa verdadeira paixão pelo calor do seu povo amável, que nos marcou o coração, ou pelas paisagens que ficaram gravadas em nossas retinas. Para sempre.
(1) É bom lembrar que Paulo Coelho (o picareta que deu certo) escreveu sobre o conhecido caminho de Santiago e começou a sua grande decolagem como “fenômeno literário” a partir daí.
(2) O galego é uma forma evoluída do galego-português (cujas origens remontam ao século IX). Com algumas influências do castelhano e umas poucas formas e traços próprios não existentes em português, alguns da língua original que desapareceram do português contemporâneo, outros fruto da evolução do próprio galego. Existem todos os anos encontros e comemorações da “Fala”, em que se apresentam intelectuais, poetas, cantores e compositores brasileiros, portugueses e de outros povos que teem o português como língua oficial.
De todas as cidades galegas, a que mais vezes fomos foi Vigo. Primeiro porque sua beleza natural é inconfundível. E em seguida porque íamos ao Consulado português onde corriam os nossos processos de legalização da permanência em terras de Portugal. Ficávamos sempre no Hotel Compostela – bem próximo ao centro da cidade –, ao lado do ancoradouro de barcos e iates. Algumas vezes ficamos em um quarto no último andar (uma água furtada), e, pela manhã, as gaivotas nos acordavam com sua agitação matinal. Lindo... de ver e ouvir!
Mas, Vigo tem também uma baía muy hermosa. Quando se atravessa a exuberante ponte pênsil na autorota, o visual é de um azul profundo, e o mar repleto de barcaças, também repletas de frutos do mar. Vigo é um dos maiores centros produtores dos crustáceos e moluscos de toda a Espanha. Surpreendentemente a melhor paella à valenciana que eu comi foi lá, e não em Valencia.
No entanto, não é somente a baía de Vigo que é tão bela assim. Todo o litoral galego é esplendoroso. Sua costa é um privilégio dos que a habitam e dos que a conhecem. E o interior? O verde, tão raro em outras regiões de uma Espanha semi-árida, compensa-se por inteiro na Galicia. Aliás, uma característica de todo o norte daquele país, o que inclui tambem a região basca e o Principado de Astúrias.
Santiago de Compostela e La Coruña também são cidades imperdíveis. Apesar do “fanatismo” e do “esoterismo” (1) religiosos, Santiago, como contraponto é um importante centro universitário e suas ruelas antigas respiram cultura e saber. O mais impressionante é que você pisa em um solo onde tantas gerações pisaram, estudaram, aprenderam, ensinaram. Amadureceram conhecimento humano e lógico, filosófico e matemático... A outra, em galego “A Coruña”, é também uma cidade abençoada pelos deuses. Somente a Torre de Hércules, monumento romano do século I, inteirinha até hoje, prova sua importância histórica.
A música é outra característica marcante da Galicia. Seu ritmo lembra a melodia irlandesa, característica, sem dúvida, da presença céltica em ambos os países. A gaita de fole, muito semelhante à usada pelos escoceses tem um som que nos envolve por completo. E, finalizando, a Fala (2), o que mais nos aproxima do galego. A Fala é muito mais próxima do português que do castelhano. Mujer é mulher. E, curiosamente trocam o “J” pelo “X” . Como Ximenes, ao invés de Jimenes. Ou Xunta de Galicia, ao invés de Junta de Galicia.
Assim é a Galícia. Um pedaço da Espanha que nós tivemos a oportunidade de conhecer muito bem. E deixou saudades; numa verdadeira paixão pelo calor do seu povo amável, que nos marcou o coração, ou pelas paisagens que ficaram gravadas em nossas retinas. Para sempre.
(1) É bom lembrar que Paulo Coelho (o picareta que deu certo) escreveu sobre o conhecido caminho de Santiago e começou a sua grande decolagem como “fenômeno literário” a partir daí.
(2) O galego é uma forma evoluída do galego-português (cujas origens remontam ao século IX). Com algumas influências do castelhano e umas poucas formas e traços próprios não existentes em português, alguns da língua original que desapareceram do português contemporâneo, outros fruto da evolução do próprio galego. Existem todos os anos encontros e comemorações da “Fala”, em que se apresentam intelectuais, poetas, cantores e compositores brasileiros, portugueses e de outros povos que teem o português como língua oficial.
12 comentários:
Os espanhois são alegres. De fato muito mais do que o sportugas.
Mas amei "o picareta que deu certo". Isso mesmo que quele maleva é.
Exitem muitos espanhois em Salvador. No meu tempo de menino, antes do advento dos supermercados, fazia-se as compras nos armazéns dos espanhois. Muitos deles, senão a maioria, oriundos da Galícia. Tanto é que havia um time de futebol (hoje desaparecido) constituído por galegos, o Galícia. Rapaz, gostava de tomar cerveja nesses armazéns, que, com a multiplicação dos supermercados, foram fechando as portas. Mas ainda existem dois ou três remanescentes e, um deles, sou freguês habitual: o famigerado Armazém Espanha, nos Barris, que ainda conserva aquelas geladeiras de espelhos. Estando-se nele, revive-se uma época, porque o espanhol, conservador, nada muda em sua decoração. O objeto mais curioso é uma latrina imenso com 'braços', algo surrealista.
Lembrei-me, agora, lendo seu 'post', de "O estranho caminho de Sâo Thiago" ("La voie lactée", 1969), do mestre Luis Buñuel.
Um picareta... Um exotérico... Um explorador da ignorãncia alheia... Mas o filha da puta tem um grande "marketing" pessoal. Isto é inegável!
Uma vez, em Vigo, fui tomar o café da manhã numa tasca (boteco) próximo ao hotel. Na Espanha só hotel cinco estrelas inclui o café na diária...
Mas o galego dono do local perguntou: "São brasileiros?". Quando respondemos que sim ele explicou que portugueses não pedem "café com leite" e sim uma "bica".
Daí, nos contou que morou em Salvador durante alguns anos.
Santiago tem muitos peregrinos. Faz parte da coisa. É um país católico e ele é o padroeiro da Espanha.
Por isto acho que Compostela tem um astral meio estranho nas cercanias da catedral.
Vi gente batendo com a cabeça numa pilastra dentro da igreja. Esta pilastra já tinha uma cor meio de sangue batido. Uma barbaridade!
E uma fila infernal para ver o local do sepulcro do Santiago.
Mas o resto da cidade não tem nada disso. É normal e alegre...
Desculpe Crisálido, mas realmente Buñuel, o maior diretor espanhol de todos os tempos tem este filme. Que, aliás, é dos poucos dele que não assisti. Pena!
Imenso prazer em ler as referências à Vigo que tem em Salvador uma colônia de imigrantes representativa, não só ligadas à rede de antigos armazéns e padarias, há um Hospital Centro Espanhol, um Clube Social Espanhol e outros núcleos de recreação e confraternização. Tenho amigos queridos que quando voltam trazem-me notícias das iguarias-gastronômicas que você descreve e muitas vezes convidam-nos para os famosos "banquetes", realmente é divertido/saboroso as "tapas" já abaianadas e miscigenadas que inventam, mais ainda porque os convidados são mais para natureba do que glutões. Ah sim, os álbuns de fotografias dos "visco-enses" (?) valem centenas de viagens, senti falta nas descrições que lí de imagens. Porém, a imagem das gaivotas no cais, linda demais!
Stela, os galegos elegeram a Bahia como o seu "Eldorado" no Brasil. Foram muitos para aí.
Claro que não chega perto dos que foram para a Argentina, Cuba ou outros países hispânico-americanos.
Aliás, milhões deles estão espalhados em outras regiões ao redor do mundo.
É um povo simpático, orgulhosos de uma terra que foi muito miserável, e, após a UE tornaram-se prósperos.
Hoje, o retorno de descendentes galegos está sendo em massa.
mas, vale a pena.
Um dia desses ainda falarei mais de suas incontáveid belezas... Mas olha, dá para encher um livro!
Eu, um tanto quanto glutão, sempre a flar das delicias dos lugares que conheci. Mas, comer também é cultura.
Aliás, pensando em Buñuel e mais um adendo ao comentário do Crisálido, lembrei-me de uma frase do cineasta que é tão genial quanto ele em que dizia: "Graças a deus não acredito em deus!".
Faço minhas as palavras dele.
Outro detalhe é que adoro a Espanha, acho seu povo alegre, mas eles foram o palco da mais sangrenta das inquisições. E, além disso pilharem as riquezas de povos americanos como os astecas, maias e incas, fundindo obras de arte em barras de ouro para levar para a corte.
Simplesmente repulsivo!
Gente, deve ser linda avista desta ponte com barcaças de frutos do mar.
Um ex-namorado meu morou na Galícia (Compostela) e me falou muito de Vigo.
É tudo muito lindo naquela cidade de Vigo...
Postar um comentário