Originalmente postado no “Pensatas” em 30/12/2007 com o título de “Desgraças a deus”, republiquei neste blogue em 10 de janeiro deste ano. Estou a reedita-lo (1) mais uma vez porque este texto esclarece muito do que escrevi no recente artigo “Complexo de Javé”.
Sempre tive em mente o quanto as religiões monoteístas são – ou propiciam – o totalitarismo. Não foi por acaso que a democracia surgiu na Grécia, cuja crença religiosa era politeísta. A existência de um poder tão grande concentrado numa só “divindade” é uma base sólida para a visão da ditadura e do próprio culto à personalidade como uma consequência natural e compreensível, por estar enraizada no raciocínio vulgar.
Curiosamente no Olimpo, as coisas às vezes se complicavam, e o próprio Zeus, em toda sua magnitude, se via às voltas com divergências e revoltas. Sua palavra tinha que ser respeitada a partir de um posicionamento de seus pensamentos, tendo que convencer seus adversários com argumentos e lógica, não apenas pelo seu poder intrínseco. Quando a democracia de Aristóteles desenvolveu-se por terras helênicas em tempos distantes, este raciocínio era tão claro quanto dois e dois são quatro.
O mundo ocidental contemporâneo, infelizmente está focado em uma nada santa trindade: as religiões que se formaram a partir de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, segundo a própria Bíblia. Podemos situá-las a partir do judaísmo, estendendo-se pelo cristianismo e culminando com o islamismo, religiões sempre em guerra entre si, apesar de suas origens comuns. Mais uma prova de que a “verdade” tem que também ser única e exclusiva, partindo de sua própria determinação. Mais uma evidência do quanto são fundamentalistas e radicais, sanguinárias e retaliatórias em seus sentidos totalitários.
“Satanizada” nos tempos atuais, a “guerra santa” dos mulçumanos, pouca diferença faz das cruzadas cristãs que buscavam conquistar terras que não lhes pertenciam. Ademais, a inquisição da santa madre igreja romana perseguiu os judeus em nome de Cristo, como eles, um hebreu. E o sionismo fanático estabeleceu a volta do “povo eleito” a terras que ocuparam em tempos que a memória pouco se lembra, a não ser pelos escritos em seus “livros sagrados”, fazendo-os marginalizar e exterminar os habitantes locais, como se estrangeiros fossem, quando na realidade são irmãos, tão semitas em sua formação étnica quanto eles em suas origens. Uma reprodução atualizada do episódio de Caim e Abel.
Em resumo, a história dessas três religiões, tem sido uma sequência de discriminações e atrocidades, perseguições e genocídios. A tentativa de impor uma crença sobre as outras, originou um comportamento sectário e consolidou a tendência ao pensamento único, origem de distorções a exemplo do nazismo, do stalinismo ou da imposição da ficcional “democracia” a partir do modelo ianque. Como se democracia pudesse surgir e se consolidar pela força das armas. Invasões, extermínios e barbaridades cometidos pelos seus defensores foram e são acobertadas como consequência “natural” e cultural da aceitação à idéia de um deus único, poderoso e vingativo, cuja “verdade” absoluta tem que prevalecer a qualquer custo.
Por isso, toda vez que ouço a frase “graças a deus”, eu me lembro que, vivendo em um mundo tão cruel, como este que infelizmente ajudamos a criar, o que deveria se dizer é “desgraças a deus”, pois, em seu nome e através de suas palavras todos os infortúnios têm acontecido.
Adendos em janeiro de 2009
Achei importante ressaltar que as religiões de origem africana, tão comuns em nosso país também são muito democráticas, até por serem também politeístas. Nelas, inclusive, o maniqueísmo está distante, pois seus deuses são bons e maus, dependendo de circunstâncias e momentos. Isto é muito civilizado. O que vem a provar que os povos que habitavam o chamado “continente negro” eram muito evoluídos em relação a nós ocidentais. Outro detalhe: quando falo de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, estou a falar daquele que no Tanach (o antigo testamento dos hebraicos) é Yahveh, que significa “ser” ou “existir”, ou ainda “a origem de todas as coisas”. O que apenas vem a reforçar a minha tese de totalitarismo a partir do raciocínio religioso, possibilitando a plena aceitação por parte dos crentes de um líder, um dirigente máximo, um presidente que seja, mas um ditador, mandante supremo, ou seja lá o diabo do nome que tenha.
Adendos em junho de 2009
O “complexo de Javé” é uma designação recente, pois quando escrevia o artigo cujo título era o mesmo deste, pensei nele e gostei tanto que resolvi tranforma-lo em título.
No entanto é importante é importante lembrar que isto não pode ser generalizado. Por exemplo, os romanos (pré-cristãos) tiveram ditadores e eram politeístas. O que defendo é a tese de que o monoteísmo facilita a aceitação de um ditador, porque culturalmente o seu deus já é absoluto, “cria(dita)dor do céu e da terra”...
(1) Com uma revisão, principalmente originada pelas mudanças adotadas pela nova ortografia.
Sempre tive em mente o quanto as religiões monoteístas são – ou propiciam – o totalitarismo. Não foi por acaso que a democracia surgiu na Grécia, cuja crença religiosa era politeísta. A existência de um poder tão grande concentrado numa só “divindade” é uma base sólida para a visão da ditadura e do próprio culto à personalidade como uma consequência natural e compreensível, por estar enraizada no raciocínio vulgar.
Curiosamente no Olimpo, as coisas às vezes se complicavam, e o próprio Zeus, em toda sua magnitude, se via às voltas com divergências e revoltas. Sua palavra tinha que ser respeitada a partir de um posicionamento de seus pensamentos, tendo que convencer seus adversários com argumentos e lógica, não apenas pelo seu poder intrínseco. Quando a democracia de Aristóteles desenvolveu-se por terras helênicas em tempos distantes, este raciocínio era tão claro quanto dois e dois são quatro.
O mundo ocidental contemporâneo, infelizmente está focado em uma nada santa trindade: as religiões que se formaram a partir de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, segundo a própria Bíblia. Podemos situá-las a partir do judaísmo, estendendo-se pelo cristianismo e culminando com o islamismo, religiões sempre em guerra entre si, apesar de suas origens comuns. Mais uma prova de que a “verdade” tem que também ser única e exclusiva, partindo de sua própria determinação. Mais uma evidência do quanto são fundamentalistas e radicais, sanguinárias e retaliatórias em seus sentidos totalitários.
“Satanizada” nos tempos atuais, a “guerra santa” dos mulçumanos, pouca diferença faz das cruzadas cristãs que buscavam conquistar terras que não lhes pertenciam. Ademais, a inquisição da santa madre igreja romana perseguiu os judeus em nome de Cristo, como eles, um hebreu. E o sionismo fanático estabeleceu a volta do “povo eleito” a terras que ocuparam em tempos que a memória pouco se lembra, a não ser pelos escritos em seus “livros sagrados”, fazendo-os marginalizar e exterminar os habitantes locais, como se estrangeiros fossem, quando na realidade são irmãos, tão semitas em sua formação étnica quanto eles em suas origens. Uma reprodução atualizada do episódio de Caim e Abel.
Em resumo, a história dessas três religiões, tem sido uma sequência de discriminações e atrocidades, perseguições e genocídios. A tentativa de impor uma crença sobre as outras, originou um comportamento sectário e consolidou a tendência ao pensamento único, origem de distorções a exemplo do nazismo, do stalinismo ou da imposição da ficcional “democracia” a partir do modelo ianque. Como se democracia pudesse surgir e se consolidar pela força das armas. Invasões, extermínios e barbaridades cometidos pelos seus defensores foram e são acobertadas como consequência “natural” e cultural da aceitação à idéia de um deus único, poderoso e vingativo, cuja “verdade” absoluta tem que prevalecer a qualquer custo.
Por isso, toda vez que ouço a frase “graças a deus”, eu me lembro que, vivendo em um mundo tão cruel, como este que infelizmente ajudamos a criar, o que deveria se dizer é “desgraças a deus”, pois, em seu nome e através de suas palavras todos os infortúnios têm acontecido.
Adendos em janeiro de 2009
Achei importante ressaltar que as religiões de origem africana, tão comuns em nosso país também são muito democráticas, até por serem também politeístas. Nelas, inclusive, o maniqueísmo está distante, pois seus deuses são bons e maus, dependendo de circunstâncias e momentos. Isto é muito civilizado. O que vem a provar que os povos que habitavam o chamado “continente negro” eram muito evoluídos em relação a nós ocidentais. Outro detalhe: quando falo de Javé, ou Jeová, ou ainda “daquele que não se pronuncia o nome”, estou a falar daquele que no Tanach (o antigo testamento dos hebraicos) é Yahveh, que significa “ser” ou “existir”, ou ainda “a origem de todas as coisas”. O que apenas vem a reforçar a minha tese de totalitarismo a partir do raciocínio religioso, possibilitando a plena aceitação por parte dos crentes de um líder, um dirigente máximo, um presidente que seja, mas um ditador, mandante supremo, ou seja lá o diabo do nome que tenha.
Adendos em junho de 2009
O “complexo de Javé” é uma designação recente, pois quando escrevia o artigo cujo título era o mesmo deste, pensei nele e gostei tanto que resolvi tranforma-lo em título.
No entanto é importante é importante lembrar que isto não pode ser generalizado. Por exemplo, os romanos (pré-cristãos) tiveram ditadores e eram politeístas. O que defendo é a tese de que o monoteísmo facilita a aceitação de um ditador, porque culturalmente o seu deus já é absoluto, “cria(dita)dor do céu e da terra”...
(1) Com uma revisão, principalmente originada pelas mudanças adotadas pela nova ortografia.
7 comentários:
Complementa e muito.
Este termo Complexo de Javé foi tua criação mesmo?
Acho muito bom. É algo como o Complexo de Édipo.
Os 'posts' que são colocados nesta 'Novas Pensatas', a exemplo deste de ontem sobre a ditadura, revelam a riqueza do pensamento jongaliano ou, se se quiser, joãocarliana. Sobre serem comentários sempre com uma visão crítica (e, algumas vezes, eivados de certo radicalismo - mas este, em certos momentos, é necessário), possuem historicidade e embasamento e, além do mais, há, neles, pesquisa da etimologia de palavras e expressões (origem e evolução histórica de um vocábulo).
Leitor diário do 'Nova Pensatas" (ausências justificadas por problemas de conexão ou 'bug' computatório), considero um blog variado que não se limita a bater na mesma tecla de um mesmo tema, a repeti-lo 'ad infinitum'. Jonga 'passeia' por cidades européias e brasileiras, a nos oferecer dicas importantes, comenta filmes, fala sobre política, conta histórias saborosas (a de sua fuga da perseguiçao militar, quando da ditadura, como "Maria de Lourdes" é antológica), e não perde, que é o mais importante, o senso de humor.
O 'Pensatas' é um exercício de discernimento e lucidez mas sem perder a ternura.
Se foi criação minhma não poss afirmar, mas nunca o tinha ouvido falar.
Mas longe de mim criar algo como Freud, segundo meu filho (que é religioso), ao lado de Marx, um dos meus deuses.
No que ele tem toda a razão...
Mais uma vez, obrigado, obrigado e obrigado.
Para mim é uma honra tê-lo como leitor assíduo, pois também o sou no seu blogue.
Você é convincente em seu raciocínio.
Não que me convença a não acreditar
em Deus. Acho que tem que haver um Criador para tudo isso. A natureza, a vida. A morte. O pós-morte.
Mas sempre penso se Deus seria exatamente como prega a Igreja.
Existir Ele existe. Mas como será?
Vamos por partes (como diria o estripador):
Quem quer acreditar em deus, que acredite. Veja bem Mary: desde a pré-história existem deuses para explicar aquilo que não conseguimos explicar.
Agora, questiono se "... tem que haver um Criador para tudo isso..." (sic).
Por que as coisas não podem ter acontecido por outras razões que não sejam "o criador"?
Sou um defensor da "Teoria do Caos", em que o universo formou-se por motivos de composições que possibilitaram isso (1). Em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser instáveis no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis.
A natureza e a vida são consequência disto. Idem quanto à morte.
Quando surgiu o monoteísmo criou-se a teoria de que “deus criou o homem à sua imagem”. Não será o contrário? Além do mais qual a imagem de deus?
Mas os deuses (mesmo anteriores a Javé) resolveram o problema do homem não querer morrer... Pelo menos para sempre. Imaginou-se uma “vida pós-morte. E a recompensa aos “bons” ou a punição aos “maus”. No meu entender, a realidade é que somos mesmo mortais e um dia vamos acabar... Para sempre!
Para finalizar, é excelente você não pensar que deus não seria exatamente como prega a Igreja. Um primeiro passo...
(1) O nosso mal é querer explicar coisas que não podemos explicar. Nossos ancestrais, no início das coisas, acreditavam que um raio era um deus. Hoje todos sabem o que é um raio. Um dia, se a ganância capitalista não destruir a humanidade, conseguiremos explicar muito mais. Pode crer.
Acrescentando ao que disse no comentário acima: "Imaginou-se uma “vida pós-morte. E a recompensa aos “bons” ou a punição aos “maus...", esqueci de acrescentar que quando Moisés escreveu parte do antigo testamento, estabeleceu princípios morais (fidelidade, amor ao próximo, etc) e de saúde como o que comer e o que faz mal à saúde e não se deve ingerir.
Daí surgiram prêmios e castigos aos que seguem ou desobedecem o que ali está escrito.
Tudo isto está no "Levítico" da Bíblia. Se eu que sou "atôa" li, leia também
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