Um dos anúncios da campanha original (remontado de acordo com o que me lembro) |
Corria o ano de 1969, quando
criamos a primeira campanha para ”Adocyl”, na Nova Proudon Propaganda, no Rio de Janeiro.
Estávamos, na ocasião, acabando
de presenciar uma polêmica que ficou registrada como “A Guerra do Ciclamato”. O
ciclamato é um adoçante artificial,
30 a 50 vezes mais doce que o açúcar, a sua patente foi comprada pela DuPont
e mais tarde revendida para os laboratórios Abbott.
Em 1958, foi aceito na categoria
de "Usualmente Reconhecido como Seguro",
mas em 1966 um estudo reportou que o ciclamato
produzia ciclo-hexilamina, um composto,
tóxico em animais. Em seguida, o estudo realizado em 1969 concluiu que o ciclamato aumentava a chance de câncer
na bexiga – em cobaias animais. E um outro finalmente mostrou casos de atrofia
testicular, tambem em ratos.
Isso originou um pânico
generalizado, já que os adoçantes, muito em voga na época, por serem novidade
(justo quando começou a onda do “para estar na moda é preciso emagrecer”), continham grande quantidade de ciclamatos... Nesta ocasião, a Nova Proudon foi procurada(1) pelo
fabricante de um adoçante –Adocyl –, que,
pasmem, gabava-se de não ter ciclamato
em sua composição.
E obviamente a campanha criada partiu deste mote... Não me
recordo de todas as peças, mas tenho certeza que a primeira era: “Depois
da tempestade veio Adocyl”. O leiaute era simples e direto,
apresentando a cara do produto. Não assinava com a logomarca porque ela
constava na foto do produto. E finalizava com a frase “Não contem ciclamatos”. Todo
o conceito e posicionamento criativo da peça, lembravam fatos recente demais
para que os leitores não o associassem aos acontecimentos.
Tentei juntar alguns neurônios
que me restam e consegui remontar este anúncio – inédito(2) – o mais próximo
possível do que ele foi (ver acima), sendo que apenas a embalagem era outra,
criada por nós, mas nunca utilizada... E as excelentes ilustrações do leiaute
tiveram o Nilton Ramalho, a dar um toque final.
O cliente aprovou
entusiasmadíssimo.
No entanto, após algumas semanas nos procurou, alegando
que precisávamos de um aproach menos
agressivo, e que não falássemos mais em ciclamatos
– o que nos causou suspeitas –, pedindo que fossemos mais objetivos e diretos
na comunicação...
Da esquerda para a direita, as três etapas do anúncio, cada vez pior |
Criamos então um anúncio que
dizia: “Entre o regime e o prazer, fique com os dois”, e assinava com
a frase: “Adoce tudo com Adocyl (logomarca)”, e, em baixo, “Sacarina
pura com doçura” e “Não contem calorias”. A ilustração
sugerida era uma foto reunindo sucos, leite e cafezinho e reforçada por um
clássico pudim de leite. Mais uma vez, o cliente amou a ideia; que, claro
estava perfeitamente dentro do breafing
passado por ele.
Mas, para alem disso, o cliente
pediu que a produção providenciasse uma “chícara mais colorida” (sic), ao invés
da branca que estava no leiaute. Resultado: “embarangou” o anúncio... Acima,
podemos verificar a involução gradativa do anúncio, o que me faz lembrar o papo do
grande diretor de arte Joaquim Pêcego, que vim conhecer alguns anos depois, mas
que dizia com muita propriedade que a melhor fase de uma criação, era enquanto
o cliente ainda não tinha visto. Porque depois...
1. Segundo o cliente, ele foi atraído pelo trabalho da agência para a Servenco(3), no Rio, e os Laticínios Itambé, atendido pela filial mineira da
Nova Proudon, em Belo Horizonte.
Tanto que o fabricante de Adocyl,
sediado em São Paulo dispensou as agências paulistas.
2. Como inédita ficou toda a campanha. E como naqueles tempos não havia
computadores, o tempo devorou todas as peças.
3. A Construtora Servenco,
durante décadas foi uma das maiores do Rio de Janeiro, tendo sido depois, uma
das principais contas da Propaganda
Estrutural, de Rogério Steimberg. Eu mesmo, na Nova Proudon, fiz excelentes e premiadas campanhas para eles...
5 comentários:
O mais curioso de tudo é um marxista como tu, ter sido um publicitário tão dedicado ao sistema... Rssss!
L.P.
Muito engraçado, mas o próprio cliente prejudicando a ele mesmo!
Por que não deixar cada "macaco em seu galho"?
Até por ser um marxista, sei a diferença entre o que penso e o que tanho que fazer para sobreviver.
Amigo, sou um marxista e não um monje franciscano... Rsss!
Defendendo o Jonga, ele é de fato um marxista. Todas as suas posições o definem assim!
Quanto a trabalhar em publicidade, o que que você faz, L.P.? Será que não tem nada a ver com o sistema? Você por acaso é um autista?
Todos estamos inseridos neste sistema. Conheço a história do Jonga e sei que foi trabalhar nessa área porque sempre foi um artista.
Jamais seria um burocrata enterrado num escritório cercado de papéis e carimbos por todos os lados!
Merci, Mario... Merci!
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