domingo, 9 de outubro de 2016

Pensatas de domingo




O debate entre Marcelo Freixo (PSOL) e Marcelo Crivella (PRB) na Band (5ª feira, 6/10), demonstrou a tendência de que no segundo turno, pelo menos aqui no Rio, os dois candidatos deixem mais claras as suas propostas e posições. Um sintoma disso foi que ambos evitaram o confronto, priorizando a discussão das propostas de governo ao invés dos habituais ataques pessoais. Enquanto no primeiro turno, os debates entre os candidatos foram marcados por um nível baixo de diálogo, com xingamentos, baixarias e poucas ideias concretas, expostas para melhorar a saúde e a educação no município.
Confira a seguir seis pontos do programa de governo de Marcelo Freixo, e notem que o seu foco, por ser um candidato de esquerda, é maior no social:
Segurança Pública: Criar um novo plano de cargos e salários para a Guarda Municipal e os “centros de mediação”, voltados para a resolução de conflitos urbanos em todas as regiões administrativas da cidade”. Incentivar a ocupação de espaços públicos com atividades culturais, esportivas e de lazer, pois, segundo seu programa de governo, “ruas ocupadas são mais seguras”. Reformar calçadas, ruas, praças e parques a fim de melhorar a rede de iluminação pública.
Saúde: Reformar o sistema municipal de saúde, extinguindo o modelo das OS’s (Organizações Sociais, que atualmente gerem as UPA’s (Unidades de Pronto Atendimento), postos e outras unidades através de repasses do município. Pretende ampliar o acesso a medicamentos do SUS (Sistema Único de Saúde), realizar concursos públicos e criar um novo plano de carreira para os servidores.
Transporte: Criar uma Empresa Pública de Transportes para a gestão, planejamento e fiscalização do sistema de transportes. O órgão irá rever contratos de concessão dos ônibus e a política de racionalização de linhas de coletivos. Outra meta é reduzir progressivamente o preço das passagens e garantir a tarifa zero em regiões mais pobres, além de extinguir a dupla função de motorista/cobrador de ônibus.
Educação: Estabelecer o método de “gestão democrática” da rede de ensino, onde haverá a participação direta na escolha de diretores das escolas e creches públicas, além de garantir a autonomia pedagógica dos profissionais da rede. Investir na valorização salarial dos servidores com novos planos de carreira.
Emprego: Criar a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, fundindo as secretarias do Trabalho e Emprego e do Desenvolvimento Econômico Solidário. Ampliar a participação popular nas decisões trabalhistas, por meio do Conselho Municipal de Trabalho, além de fortalecer Centros Públicos de Emprego, Trabalho e Renda, para que realizem melhor a intermediação de mão de obra.
Saneamento: Criar a Empresa Pública de Saneamento Ambiental, vinda da união da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) com a Rio Águas, para articular a política de saneamento ambiental ao planejamento urbanístico de cada região do município. Propõe ainda a criação da Subsecretaria Municipal de Saneamento Ambiental, integrada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente; do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental; e de um Plano Municipal de Saneamento Ambiental.
E agora confira seis pontos do programa de governo de Marcelo Crivella, ficando evidente neste caso a participação da iniciativa privada, o que caracteriza uma visão conservadora do status quo:
Segurança Pública: Garantir a presença de 80% do efetivo da Guarda Municipal em ações de policiamento comunitário e vigilância ostensiva da cidade até o final de 2018. Outra meta é aumentar em pelo menos 20% o número de câmeras de vigilância (até 2020) e promover uma PPP (Parceria Público Privada) para ampliar e modernizar a estrutura de iluminação pública da cidade, com previsão de conclusão dos investimentos até o final de 2019.
Saúde: Criar o programa “Clínica de Especialistas”, dedicado ao atendimento de “especialidades médicas”, com a construção de 20 unidades de saúde até o fim de 2020. Pretende municipalizar 16 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) administradas pelo estado, além de realizar um mutirão de cirurgias em 2017 e ampliar em até 20% o número de leitos em hospitais municipais até 2018.
Transporte: Pretende concluir as obras do BRT e estuda a possibilidade de expandir o sistema até o centro da Ilha do Governador, Zona Norte da cidade, até 2020, além de exigir das concessionárias um aumento de 20% da frota até 2018. Aumentar para três horas o prazo de utilização do Bilhete Único Carioca, que atualmente é de duas horas e meia, recolhimento de ISS (Imposto Sobre Serviços) para o aplicativo Uber e reduzir o número de radares na cidade. Outra meta é interromper a “racionalização” de linhas de ônibus.
Educação: Seguir o modelo de Belo Horizonte e estabelecer uma PPP para criar 20 mil novas vagas em creches e 40 mil novas vagas em pré-escolas até 2020, em que o parceiro privado é responsável pela construção e manutenção administrativa das unidades e a prefeitura pela parte pedagógica e pela merenda escolar. Investir na qualificação dos professores através de parcerias com universidades e organizações do terceiro setor.
Emprego: Criar o programa “Oficina para o Emprego” para a capacitação e profissionalização, em conjunto com o sistema “S” (Senai, Senac, Sesc) e intercâmbios internacionais, com a criação de 20 oficinas até 2019, pretendendo gerar 40 mil vagas de trabalho com direito a bolsa e estágio de 6 meses.
Saneamento: Firmar uma parceria entre a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) e a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) para solucionar os problemas de saneamento e limpeza urbana das 20 principais comunidades do município até o final de 2019.
Mas voltando ao debate, houve uma discordância sobre o tamanho do Estado nas propostas, discussão esta causada por Crivella defendendo uma maior participação da iniciativa privada.
Lembrando ainda que na primeira oportunidade que surgiu para questionar Crivella, Freixo frisou que o respeitava muito, mas que os aliados do político do PRB não mostraram a mesma postura durante a semana, ao espalharem boatos na internet. “Foi uma chuva de mentiras e calúnias, queria que você tivesse a oportunidade de desmentir”, reclamou o candidato do PSOL. Ao que, retrucou Crivella: “Freixo, você sabe que esse respeito é recíproco. Você fala de aliados. Você tem ao seu lado partidos que protagonizaram grandes escândalos, como o petrolão”, respondeu Crivella., sobre o apoio do PT à candidatura de Freixo, perguntando em seguida: “Você teve participação nisso? Claro que não.” Querendo insinuar que não se pode colocar nas costas dele o que andam a dizer na internet.
“Partidos que apoiam no segundo turno tem dos dois lados. Não fiz parte do governo que chama de petrolão, você fez, foi ministro. A campanha nesta semana foi criminosa. Vou manter o respeito”, replicou Freixo. “Repudio qualquer tipo de calúnia, mentiras e infâmia, tanto de você quanto de mim”, tornou a afirmar Crivella que, porém, pontuou que era preciso ter paciência com o modo empolgado como alguns partidários fazem campanha.
É evidente que o grande derrotado da eleição no primeiro turno foi Pedro Paulo (PMDB), que não conseguiu avançar, não chegando ao segundo mesmo com o apoio da poderosa máquina peemedebista. Ele foi escolhido pelo prefeito Eduardo Paes para sucedê-lo no posto, mas não conseguiu reverter o alto índice de rejeição. Pedro Paulo ficou marcado pela acusação de agredir a sua ex-mulher, Alexandra Marcondes.
Outro fator evidente e que pode pesar no resultado final é o caráter religioso/evagélico de Marcelo Crivella. Ao fim ao cabo, se por um lado isto lhe garante os votos obtidos no turno anterior, por outro o afasta de grande parte do eleitorado, mesmo o de direita, como os católicos por exemplo. Mesmo que não votando no Freixo, muitos vão anular o voto, votar em branco ou simplesmente não ir votar –no primeiro turno 38,1% de eleitores não compareceram às urnas.

    

6 comentários:

Joelma disse...

Muito boa a sua abordagem desta questão, porque a campanha de Freixo é baseada na defesa dos direitos humanos e na construção de outro modelo de cidade.

Na última semana antes da eleição. ele realizou o último comício (na Lapa) que reuniu cerca de 15 mil pessoas que mostraram que é possível construir uma cidade mais humana.
Freixo atuou durante duas décadas como ativista de direitos humanos.

Coordenou projetos educativos no sistema penitenciário e fiscalizou presídios para garantir direitos dos presos. Foi do PT (1986/2005), quando filiou-se ao recém-criado PSOL.

E para finalizar e se avaliar melhor, ele foi o deputado estadual mais votado do país em 2014.

Tavim disse...

Quando você diz que o foco de Marcelo Freixo, é maior no social, por ele ser de esquerda,enquanto as idéias de Marcelo Crivella, tornam evidente a participação da iniciativa privada, caracterizando o seu conservadorismo, fica claro que sem dúvida trata-se de um confronto ideológico.
Crivella inclusive cita muito as parcerias público-privadas E não tenhamos dúvida que ele é favorável a privatizações a começar pela Petrobras.

Tavim disse...

Ah esquecí de dizer que não consegui comentar no post anterior porque não há como fazer;

Jonga Olivieri disse...

É Otávio, Comprovei que de fato a postagem abaixo não está habilitando comentários. E o pior é que não consegui corrigir o problema,

Mário disse...

Pôxa Olivieri. Não sabia que estavas tão envolvido na campanha do Freixo.

Por acaso voce está militando no PSOL? Se estiver meus parabens , porque considero o melhor partido de esquerda no Brasil atualmente.

O PSOL engoliu o PSTU e o PCO porque a linguagem desses 2 partidos é totalmente ultrapassada, á obsoleta e o que eles falam não alcança as massas. E por isso mesmo eu rompi com o PSTU.

Já o PSOL é atual, é contemporâneo em sua linguagem. Não existindo nele o sectarismo nem o fundamentalismo que caracterizam os partidos supra citados.

Jonga Olivieri disse...

Não Mário, não milito no PSOL. Dou todo apoio necessário, mas por uma questão de princípios não me filio a nenhum partido político*. Você há de perguntar por que? Porque, creio eu, estar dentro de um partido é total e completamente diferente de ser um simpatizante.
Quando se filia, o militante perde a sua autonomia de pensar... Se um partido resolve assumir uma determinada posição e você discordar, mas for "voto vencido", você tem que aceitar aquela decidida posição de que discorda. E considero isso algo inaceitável. Revoltazinha pequeno burguesa? Talvez até seja, mas eu acho importantíssima a liberdade de pensar e de agir.

* Militei no POR-T (Partido Operário Revolucionário - Trotsquista) Seção Latinoamericana da IV Internacional na minha juventude, e, tinha algumas divergências com o Comitê Central, cujo Secretário Geral era J. Pousadas. Ora bem, durante cerca de um ano procuramos (o já falecido companheiro Ruy e eu) contato com a IV européia; coisa que não conseguimos, até porque o nosso partido caiu; e aí degringolou tudo.