Mais uma incursão literária. Esta foi escrita em 1997 e publicada no “Pensatas” em março de 2007.
Selma chegou com uma sacola na mão. Abriu a gaveta.
- Ih, não vai caber. Observou Sérgio olhando para ela.
Selma, como que ignorando o comentário dobrou a sacola de plástico e com maestria a ajeitou na gaveta. Fechou. Olhou para o lado na direção de Sérgio com ar de vitória e retrucou orgulhosa:
- Eu sei os limites da minha gaveta!
Risos.
Antônio chegou ao lado de Sérgio. Seu jeito era malicioso, um tanto jocoso.
- Você reparou naquela lourinha nova da contabilidade?
- Claro... respondeu Sérgio com mais malícia ainda.
- Sabe o nome dela?
- Não. Ainda não sei.
- Sislene. Vê se pode. Tão gostosa, com um nome tão escroto.
- Puta merda, ela não merecia. Mas, bem que ela, no fundo no fundo... tem um jeitinho tão suburbaninho! - Pausa - Mas que é gostosinha, ah, isso é.
Houve um breve silêncio.
- Sabe o que que eu acho? Acho que a gente tem que chamar as mulheres com o nome que a gente acha que elas devem ter. Por exemplo. Essa tal de Sislene, foi esse o nome que você falou, não foi? Acho que ela tinha que se chamar... Débora. Sim, Débora é um nome que combina com ela. Tem cara de Débora.
- Bem melhor. Ah! Débora, que bundinha linda. Que peitinhos, hummm!
- Tem alguém comendo?
- Já?... Sei lá!
- Bom, sabe como é aqui, né!? É uma comilança danada. - Sérgio aproximou-se mais de Antônio e sussurou - Sabe a secretária do Albano, aquela gostosíssima?
Antônio balançou a cabeça.
- Pois bem, sabe quem está comendo?
- Quem?
- O Alfredo.
- É mesmo. Puta que pariu! E eu que não tirava o olho dela. Achava até que ela dava bola pra mim. Ah, que filha da puta!
Sérgio estava impaciente, inquieto. O ambiente era saturado, abafado, enfumaçado. Sérgio sempre sofrera um pouco de claustrofobia. Virou-se bruscamente para Júlia:
- Aquele cara está olhando para você.
Júlia franziu a testa.
- Que é isso, Sérgio... você bebeu um pouquinho demais, vai!
- Não, Júlia, não. Eu tenho certeza que aquele crápula, aquele imbecil, aquele sei lá o quê olhou pra você, e eu vou...
- Você não vai a lugar algum, Sérgio. Olha o tamanho dele...
- Quer dizer que você já notou até o tamanho dele, né?
- Sérgio, querido, que babaquice! Sérgio, vou propor uma coisa.
- Fala...
- Vamos pedir a conta... Vamos embora.
- Mas antes eu vou tomar satisfações com aquele cara.
- Sérgio! Tô falando sério! Deixa isso pra lá!
- Não.
Sérgio levantou-se bruscamente, meio que cambaleante. Júlia tentou segurar. Levou um safanão. Ficou estatelada na cadeira.
- Alô!... Selma, como vai. Bom, eu estou... é... ah foi terrível. Também eram três. Não deu pra começar sequer. Hum... Júlia terminou comigo, ficou puta da vida. Quê que eu posso fazer, né? Como? É, só vou trabalhar amanhã. Por enquanto estou meio quebrado. Obrigado... tá... obrigado mesmo por ter ligado.. Ok. Ah, Selma... Sabe de uma coisa... sabe mesmo? Eu não sei os limites da minha gaveta, sabe, não sei.
Risos.
Selma chegou com uma sacola na mão. Abriu a gaveta.
- Ih, não vai caber. Observou Sérgio olhando para ela.
Selma, como que ignorando o comentário dobrou a sacola de plástico e com maestria a ajeitou na gaveta. Fechou. Olhou para o lado na direção de Sérgio com ar de vitória e retrucou orgulhosa:
- Eu sei os limites da minha gaveta!
Risos.
Antônio chegou ao lado de Sérgio. Seu jeito era malicioso, um tanto jocoso.
- Você reparou naquela lourinha nova da contabilidade?
- Claro... respondeu Sérgio com mais malícia ainda.
- Sabe o nome dela?
- Não. Ainda não sei.
- Sislene. Vê se pode. Tão gostosa, com um nome tão escroto.
- Puta merda, ela não merecia. Mas, bem que ela, no fundo no fundo... tem um jeitinho tão suburbaninho! - Pausa - Mas que é gostosinha, ah, isso é.
Houve um breve silêncio.
- Sabe o que que eu acho? Acho que a gente tem que chamar as mulheres com o nome que a gente acha que elas devem ter. Por exemplo. Essa tal de Sislene, foi esse o nome que você falou, não foi? Acho que ela tinha que se chamar... Débora. Sim, Débora é um nome que combina com ela. Tem cara de Débora.
- Bem melhor. Ah! Débora, que bundinha linda. Que peitinhos, hummm!
- Tem alguém comendo?
- Já?... Sei lá!
- Bom, sabe como é aqui, né!? É uma comilança danada. - Sérgio aproximou-se mais de Antônio e sussurou - Sabe a secretária do Albano, aquela gostosíssima?
Antônio balançou a cabeça.
- Pois bem, sabe quem está comendo?
- Quem?
- O Alfredo.
- É mesmo. Puta que pariu! E eu que não tirava o olho dela. Achava até que ela dava bola pra mim. Ah, que filha da puta!
Sérgio estava impaciente, inquieto. O ambiente era saturado, abafado, enfumaçado. Sérgio sempre sofrera um pouco de claustrofobia. Virou-se bruscamente para Júlia:
- Aquele cara está olhando para você.
Júlia franziu a testa.
- Que é isso, Sérgio... você bebeu um pouquinho demais, vai!
- Não, Júlia, não. Eu tenho certeza que aquele crápula, aquele imbecil, aquele sei lá o quê olhou pra você, e eu vou...
- Você não vai a lugar algum, Sérgio. Olha o tamanho dele...
- Quer dizer que você já notou até o tamanho dele, né?
- Sérgio, querido, que babaquice! Sérgio, vou propor uma coisa.
- Fala...
- Vamos pedir a conta... Vamos embora.
- Mas antes eu vou tomar satisfações com aquele cara.
- Sérgio! Tô falando sério! Deixa isso pra lá!
- Não.
Sérgio levantou-se bruscamente, meio que cambaleante. Júlia tentou segurar. Levou um safanão. Ficou estatelada na cadeira.
- Alô!... Selma, como vai. Bom, eu estou... é... ah foi terrível. Também eram três. Não deu pra começar sequer. Hum... Júlia terminou comigo, ficou puta da vida. Quê que eu posso fazer, né? Como? É, só vou trabalhar amanhã. Por enquanto estou meio quebrado. Obrigado... tá... obrigado mesmo por ter ligado.. Ok. Ah, Selma... Sabe de uma coisa... sabe mesmo? Eu não sei os limites da minha gaveta, sabe, não sei.
Risos.
9 comentários:
A gaveta serve como uma espécie de 'leitmotiv' para 'amarrar' a simbologia do breve conto. Os limites de todos nós se restringem ao retângulo de uma espécie de 'gaveta' imaginária. O 'touch' da narrativa se abre e se fecha com estes limites. É o 'gancho' que o autor cria no sentido de dar ao conto um 'ponto' de referência para a conversação vadia. Lê-se bem, e a conversa se afina no desequilíbrio dos anseios, e dos anseios femininos o que é salutar nestes dias de bruxas soltas e 'onda' viadesca.
É isso mesmo. A gaveta como símbolo e "amarração" da trama.
Escrever é muito gostoso. Desencandear uma história por trás da escrita, melhor ainda.
Gostei muito e estou interessado neste seu conto.
Para que endereço devo mandar um e-mail para que possamos estabelecer contato?
Obrigado por ser um admirador de meu trabalho. E aproveite para conhecer o meu blogue de pinturas & desenhos.
Lá você enontrará o e-mail para onde enviar sua mensagem.
Em tempo: o meu blogue de pinturas & desenhos tem um link ao lado deste Novas Pensatas. É só clicar e acessar.
Parabens. É muito bom este seu conto. E eu não conhecia ele porque em março de 2007 eu ainda não acompanhava o Pensatas.
Fantástica a condução deste teu conto. Como me prendeu.
Digo-te sempre que fico surpresa contigo a cada dia que passa.
E olha que você é uma das mais antigas comentaristas tanto do Pensatas, quanto do Novas Pensatas...
Que bom que prendeu sua leitura.
Isto é muito bom saber!
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