domingo, 16 de agosto de 2009

Pensatas de domingo

Estou a reler “Folhas mortas que ressuscitam” de Marieta Alves (minha avó materna).
Historiadora e jornalista, baiana de Salvador (1892/1981), Maria Amália de Carvalho Santos Alves foi autora de importantes obras de referência sobre a arte na Bahia e de inúmeros ensaios e artigos para a imprensa, tendo mantido uma coluna n’A Tarde (jornal soteropolitano) por muitos anos. Marieta Alves também ocupou lugar de destaque em vários institutos de pesquisa, onde publicou diversos estudos e pesquisas sobre mestres artesãos desde os tempos da colônia.
Seu mais importante livro foi sobre a Ordem Terceira de São Francisco. Entre outras coisas ela descobriu, lendo os empoeirados arquivos da construção, que esta havia sido caiada, o que provocou a limpeza do prédio revelando as belas pedras que o revestiam.

A briga de foice entre as quadrilhas Marinho e Macedo está a se consumar como um choque violento. Pelo menos foi o que ficou evidente esta semana que passou.
O estopim do embate entre os dois canais foi uma reportagem (cerca de 10 minutos) pelo Jornal Nacional na terça-feira, 11, sobre denúncia do Ministério Público de São Paulo que incriminou o bispo Edir Macedo e outros nove membros da Igreja Universal por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. No dia seguinte, em reportagem com mais de 15 minutos veiculada pelo Jornal da Record, a emissora recorreu a imagens de arquivo para vincular a Globo à ditadura militar e aos escândalos Time-Life e Proconsult.
Tudo, no fundo – e apenas – para encobrir uma disputa pela liderança na audiência televisiva. A Rede Globo, senhora absoluta nos últimos trinta anos, está, pela primeira vez ameaçada de perder o seu trono.

E a pizza de cuxá (1) está cada vez mais saborosa para Sarney & Cia. O resultado das manobras espúrias do velho e matreiro político resultaram em sua manutenção no cargo de presidente do Senado.
Por outro lado, a população começa a esboçar um movimento de repulsa ao prolongamento de velhos hábitos e vícios políticos. É o caso do movimento “Fora Sarney!” http://www.forasarney.com/ que realizou manifestações públicas em diversas capitais neste sábado, 15.
Em um país sem tradição de lutas e movimentos de massa tais atitudes mostram o quanto o povo começa a ficar incomodado com as abusivas politicagens que remontam aos costumes medievais da oligarquia rural, uma das principais causas de nosso atraso social. O feudo dos Sarney domina um dos Estados mais intensamente massacrados pelas desigualdades que marcam a nossa história desde a colônia.
É necessário repensar o Brasil e adequa-lo ao século XXI...

(1) Prato típico maranhense. Do tupi = “o que conserva”, + o tupi = “azedo”. Substantivo masculino. Brasileirismo Guineensismo Botânica - Caruru-azedo. Brasileirismo Culinário - Molho feito com folhas de caruru-azedo, gengibre e outros temperos.

11 comentários:

André Setaro disse...

Sua ascendência, por parte materna, é ilustre, porque, entre outros, conta como sua avó a historiadora consagrada Marietta Alves, que tive a oportunidade de conhecê-la por ter sido quase minha vizinha por décadas. Naquela época, praticamente todos os meus parentes moravam no aprazível bairro de Nazaré (ou Nazareth como figurava nos letreiros dos ônibus e bondes; sim, peguei os tempos dos bondes).

Ao contrário dos dias que correm, com a densidade demográfica e o crescimento exagerado da população (o governo, criminosamente, não se interessa pelo controle da natalidade), quando fica difícil se visitar um familiar ou, mesmo, um amigo, consideradas a distância e a dificuldade de locomoção, naquela boa época havia o costume de se "visitar" parentes, fazer uma "visitinha".

Mas já ia a escapar do assunto do comentário. Marietta Alves, sobre ser uma pesquisadora de escol, reconhecida nos meios intelectuais, tinha, porém, e aqui vai uma desculpa pela sinceridade a seu neto, o péssimo hábito de fazer poesia. Não que a poesia não seja algo sublime. Mas Marietta Alves não tinha o pendor poético, como sói acontecer com muita gente boa e preparada. Seus versos contemplavam a lua, aniversários de netos, a beleza de uma paisagem, não havendo, neles, um sentimento de mundo e uma linguagem capaz de expressá-lo dentro da articulação da sintaxe poética.

O tempo passa e a obra de Marietta Alves precisa ser resgatada do esquecimento, porque, como se sabe, o brasileiro não tem memória, principalmente o baiano.

Tinha o faro de historiadora e suas pesquisas eram minuciosas. A memória baiana muito deve a ela.

Jonga Olivieri disse...

Suas recordações de Nazaré também são parte das minhas.
Lembro-me do choque que levei, no curto spaço de tempo que separou 1967 de 1982.
Foram 15 anos em que o aprazível bairro soteropolitano entrou em sua decadência evidente.
E o meu reencontro com ele foi simplesmente chocante.
Mas falando de Marieta Alves. Admiro a minha querida e saudosa avó como "historiadora", e, principalmente como pesquisadora.
Mas desde minha adolescência, ao descobrir a realidade brasileira, tornei-me muito crítico em relação a suas posições, de um modo geral elitistas, fruto de uma educação tradicionalista e aristocrática.
Dai considera-la mais como uma pesquisadora --pois pegava no batente e encarava a poeira dos porôes vetustos das igrejas--, do que historiadora. A sua interpretação da história estava muito aquém das minhas exigências.
E o mesmo quanto à poesia, apesar de ter sido o fruto de muitas de suas inspirações, posto que fui o seu primeiro neto.

Stela Borges de Almeida disse...

Excelente postagem, não apenas porque nos leva a rememorar o papel de ilustre personagem feminina que com seu trabalho deixou contribuições expressivas, mas porque associa a postagem ao momento presente. Ontem trafegando em sentido Garibaldi-Iguatemi presenciei a manifestação de não mais que trinta e pouco jovens que com apitos, faixas e bandeiras manifestavam-se "Fora Sarney". Tentei registrar numa foto, os amigos que estavam no carro ao manifestarem seu apôio com entusiasmados vivas à passeata colocaram-se numa posição que impediram as imagens, mas o epsódio marcou a passagem naquele trecho movimentado de carros e de ônibus em direção à Itapuã.
Vou deixar uma sugestão para esta Pensatas de Domingo, reavivar nossa memória com um texto da Marietta Alves para podermos apreciar e revisitar.

Jonga Olivieri disse...

Interessante você ter escrito: "... nos leva a rememorar o papel de ilustre personagem feminina que com seu trabalho deixou contribuições expressivas...", porque minha avó Marieta foi de fato uma apaixonada pela Bahia e sua riqueza cultural, tendo se dedicado intensamante a pesquisar este passado tão rico em artesãos e ourives que proliferaram por terras baianas.
Veio a morrer aqui no Rio, quando minha mãe a trouxe por estar em dificuldades financeiras.
No dia de seu enterro, pensava o quanto deveria ter conseguido um punhado da terra soteropolitana para que fosse com ela.
É, menina! O povo está nas ruas clamando por justiça contra os exploradores da nação (uma danação verdadeira mesmo).
Vou satisfazer o seu pedido e transcrever um texto de Marieta neste blogue. Dê-me apenas algum tempinho porque quero publicar algo significativo.

Ieda Schimidt disse...

Esta briga de foice entre o bispo e os herdeiros do "hômi" vai ser uma pelea cada vez mais dura e cruel.
A Record anunciava que passaria a Globo ainda neste ano de 2009. Se naõ passou está ameaçando muito.
As reações quando da inauguração da Record News forma claras neste aspecto.
E vou procurar alguma coisa sobre a tua avó no Google. Concordo e dou força ao pedido daStela para que publique um texto dela no teu blog.

André Setaro disse...

Discordo de Vossa Excelência: mais do que pesquisadora, Marietta Alves foi uma grande historiadora com acentos "arqueológicos"

Há alguns anos, um membro da Academia Baiana de Letras, num coquetel, homem de cultura festejado nos meios intelectuais, cujo nome não cito porque em internet, conversando com este humilde escrevinhador, ambos (eu e ele) a beber farto 'scotch', conversámos alegres e dirigidos pelos eflúvios alcoólicos, quando falava da Nazareth de minha meninice, de repente, surgiu, não sei bem o motivo, o nome de Marietta Alves. Espantando, perguntou-me:
- Você, caro Setaro, conheceu a grande historiadora?
- Sim, além de ser vizinha de meu tio, a filha dela se casou com um outro tio.
- Mulher excepcional! Seus trabalhos são preciosos para o resgate da História da Bahia.

E, veja bem como são as coisas, somente por este fato, sempre que se encontra comigo é muito efusivo e cita Marietta Alves.

André Setaro disse...

Vejam a rica bibliografia de Marieta Alves (pensei que tivesse dois "ts".

http://openlibrary.org/a/OL1723744A/Marieta-Alves

Jonga Olivieri disse...

No que fica evidente o acento pesquisadora de sua especialização. A arqueologia não compreende a história no seu sentido mais essencial.
Evidentemente que tudo é história, mas um historiador é aquele que liga e encadeia os fatos e não apenas os registra.
Minha avó (com todo o respeito que lhe devo) era uma grande pesquisadora histórica.
Todavia as suas análises e conclusões eram do tipo: "... a história deste país foi até o Império. A República instalou o cáos e a decadência...".
Apesar dos Sarneys que habitam esta (Res)pública eu discordo dela em gênero, número e grau.
A República, apesar de tudo foi um avanço em direção a certas conquistas sociais. O que mais travou seu desenvolvimento foi a Oligarquia Rural, conesequência justamente do império...
Mas isto é papo pra muito chope!

Jonga Olivieri disse...

Obrigado por ter enviado o link: http://openlibrary.org/a/OL1723744A/Marieta-Alves.
Ele trás as principais obras de Marieta Alves.
No entanto faltam os livretos que ela publicou através do "Instituto Feminino" de Dona Henriqueta Catarino e que desdobraram muito o tema abordado no livro "Mestres Ourives de Ouro e Prata da Bahia".

maria disse...

Acabou que ontem eu não tive tempo de ler o seu blog.
Mas, mesmo com atraso venho hoje dar os parabéns pela sua avó, uma intelectual baiana de primeira linha.

Jonga Olivieri disse...

Thanks Mary. Minha avó fez um sucesso neste blogue.
Vou escrever mais sobre ela. Porque ela merece.