sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O racha no PSTU, e o 2º turno para prefeito no Rio



Para justificar sua decisão de não coligar com o PSOL no 1º turno destas eleições municipais, o PSTU afirmou que uma vitória eleitoral do PSOL não seria do ponto de vista do Marxismo Revolucionário um avanço para a luta pelo socialismo. Em seus textos explicaram que um triunfo dos candidatos social democratas do PSOL geraria uma profunda decepção entre a vanguarda classista e os trabalhadores porque daria lugar a gestões baseadas em uma política de colaboração de classes, como foram as administrações petistas. Os artigos publicados pelo PSTU não deixam dúvidas: “Nós só alertamos: o PSOL que segue os mesmos passos do PT. Pode obter êxitos eleitorais? É muito provável. No entanto, esta não é a solução da crise da esquerda brasileira provocada pela degeneração e traição do PT. Ao contrário, é o caminho seguro para uma decepção ainda maior e mais rápida (sic)”.

Agora, no 2º turno, o PSTU decidiu se jogar de cabeça pela vitória eleitoral de Marcelo Freixo, esquecendo completamente o que havia escrito, e a direção do partido declarou: “Tivemos a tática de lançar a candidatura de Cyro Garcia e Marília Macedo no 1º turno. Agora daremos nosso voto crítico em Marcelo Freixo para enfrentar o bispo e acompanhar o movimento que os setores mais conscientes de nossa classe farão neste 2º turno. Entraremos com nossa militância e não mediremos esforços nessa luta eleitoral contra Crivella” (PSTU declara voto crítico em Marcelo Freixo no 2º turno. Cabe à cúpula do PSTU explicar essa mudança drástica de “tática”, porque até “ontem” o PSTU criticava duramente o programa “reformista” do PSOL, tanto que lançou candidaturas próprias em todas as capitais e nas principais cidades em nome da independência de classe, por não aceitar o financiamento pelos capitalistas, enfim por uma série de “critérios políticos e programáticos revolucionários”. Não adianta apresentar um programa que não rompe com bancos, grandes empresas e esse sistema corrupto, repetindo a tragédia dos governos do PT”. Qual a grande razão que fez o PSTU mudar de posição tão drasticamente e não defender o Voto Nulo?

É bom lembrar que com relação a Freixo, o PSTU dizia até antes das eleições que “Marcelo Freixo recebeu dinheiro de empresas, como a que foi responsável pela demolição da Vila Autódromo, em 2012, apontando para o mesmo caminho do PT”. O que mudou agora? Nada. Muito pelo contrário, esse curso de degeneração se aprofundará! O PSOL irá ampliar suas relações políticas e materiais (financeiras) com a burguesia, seus partidos da ordem e doadores capitalistas. O mesmo caminho trilhado pelo PT, de relações corruptas com a burguesia se aprofundará! A direção do PSTU sabe de tudo isso, mas não quer “pagar o preço” do isolamento político, não deseja mais uma vez ser chamada de “seita imunda” pelos militantes do PSOL, prefere apoiar uma candidatura social democrata de “esquerda”! Essa tarefa, como nos ensinou Trotsky, é para os verdadeiros revolucionários que não cedem à pressão da “opinião pública progressista”, e estão dispostos a remar contra a maré para manter sua opinião e independência de classe.

Neste 2º turno o PSTU optou por apoiar Freixo em nome de “derrotar a direita”, Com esta conduta, o PSTU empresta plena razão ao MAIS¹ de Valério Arcary². Este defendeu a “Frente de Esquerda Socialista” como cobertura para apoiar o candidato do PSOL desde o 1º turno, apresentando-o como uma “alternativa à direita e ao PT”. O MAIS argumentou inclusive que coligado ao PSOL, o próprio PSTU poderia ter eleito Cyro Garcia como vereador no Rio de Janeiro! Se com o PSOL coligado apenas ao PCB o PSTU não apoiou Freixo, porque agora o fez?, podemos perguntar com toda razão. Se o PSTU tinha acordado em estabelecer uma frente para “enfrentar o bispo, contra Crivella” porque não estiveram juntos já em 2 de outubro? A resposta é que o “giro esquerdista” empírico do PSTU não esteve lastreado em um programa de ruptura com sua linha social democrata de “esquerda”, tanto que o “Fora Todos” do PSTU desemboca da defesa de “eleições gerais”, ou seja, em um terreno institucional que a burguesia tem controle, assim como apoia a Operação Lava Jato, no máximo, critica as “arbitrariedades” contra Lula, não reivindica a liquidação revolucionária das instituições burguesas e sua violenta denúncia. Em uma espécie de “auto convencimento” o PSTU justifica seu apoio ao PSOL no segundo turno declarando: “Crivella e Marcelo Freixo chegaram ao 2º turno das eleições para prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Diante desse cenário, estamos declarando voto crítico no candidato do PSOL, porque nele se depositam as expectativas de mudança em nossa cidade. Freixo e o PSOL, apesar de todas as suas limitações, nunca entraram organicamente nos governos Lula e Dilma”. Em resumo, Freixo representaria um PSOL “puro”.

O PSTU vai se desmoralizando a passos largos e agora será um alvo ainda mais frágil aos ataques do MAIS, já que Eduardo Almeida acabou por aderir oficialmente à política reformista do agrupamento do Prof. Valério, convocando o “voto útil socialista” no PSOL. Não por acaso, o MAIS acaba de denunciar, em seu queixume por não ter eleito Amanda Gurguel porque o PSTU fez alianças com o PSOL no Rio Grande do Norte, mas negou-se a estabelecer a coligação em Natal por puro oportunismo eleitoral. Segundo o MAIS “Opinamos que a decisão do PSTU de não repetir a frente de esquerda em Natal, como nas eleições de 2012, não se explica apenas por ‘critérios políticos e programáticos’, como afirmam em sua nota. Afinal, frentes eleitorais do PSTU com o PSOL foram formadas em outros municípios do RN, como Ceará-Mirim e Currais Novos, com o PSOL encabeçando as chapas para a Prefeitura e, inclusive, elegendo um vereador do PSOL nesta importante cidade do Seridó”. Assim também ocorreu em São José dos Campos, por pressão dos apetites eleitorais de Toninho e Gradella. O que foi exceção no 1º turno vira regra no 2º de uma forma ainda mais vergonhosa, onde o PSOL amplia suas alianças com a burguesia e recebe o apoio financeiro dos capitalistas, tudo agora tendo a cobertura “revolucionária” do PSTU. O mais patético é como o PSTU conclui sua declaração de apoio eleitoral a Freixo “Entraremos com nossa militância e não mediremos esforços nessa luta contra Crivella. Adiantamos que preservaremos nossa independência política e financeira e que de forma alguma integraremos uma possível prefeitura do PSOL”. Com esse truque final o PSTU deseja aparentar que mantém certo grau de “independência política” quando no mundo real está mergulhado de cabeça na campanha (burguesa) de Freixo em defesa de um “sistema capitalista com sustentabilidade ambiental e social”, relevando suas alianças até com partidos como o REDE, PV e PSB e por fim com os neoliberais “arrependidos” do PT. Caso o PSOL ganhe as eleições, o PSTU sofrerá novas rupturas à direita que seguirão imediatamente o caminho do MAIS em seu rumo social democrata ao PSOL, cedendo inclusive seus quadros para a nova gerência burguesa “socialista” no Rio de Janeiro.

1. Cerca de 1.200 pessoas, reuniram-se em São Paulo no dia 23 de julho deste ano para o lançamento do MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente Socialista). Ainda não há confirmação de que o MAIS vai se tornar um partido, mas o grupo já agendou para o início de 2017 uma convenção para decidir os rumos do movimento.

2. Valério Arcary é professor titular aposentado do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) onde trabalhou entre 1988 e 2014. É historiador marxista, fundador e militante do PSTU. Estudou Sociologia em Paris (1974), e História na Universidade Clássica de Lisboa (1975/78). Graduação e licenciatura em História pela PUC-SP em 1988 e doutor em História Social pela USP em 2000. Foi militante estudantil durante a Revolução Portuguesa. Voltando ao Brasil em agosto de 1978, uniu-se à Convergência Socialista (setor trotskista do PT). 



3 comentários:

Joelma disse...

E dizer que estava a fazer a maior propaganda do PSOL, da Luciana Genro, até para presidenta!
Caro Jonga Olivieri, gosto muito de você, e peço desculpas por eu falar isto, mas acho que você, neste post deu a maior virada que eu já vi em suas posições. O que o motivou a este novo ponto-de-vista?

Jonga Olivieri disse...

Joelma querida, posso lhe garantir que esta "virada" tiveram razões de ser.
Pra começo de conversa, esta postagem levou três dias de muita pesquisa. Inicialmente ia abordar o segundo turno, e continuar a análise das "Pensatas de domingo" em que comparava as diferenças programáticas entre os dois Marcelos e suas respectivas promessas.Claro que tentando valorizar a situação do Freixo.
No entanto, por absoluta ignorância, eu não sabia que Freixo havia recebido dinheiro de empresas, inclusive a que demoliu a Vila Autódromo, nem de suas alianças com partidos como o REDE, PV e PSB e nem com os "neoliberais arrependidos” do PT.
Essas e outras que ao longo da minha pesquisa.
E não me considero incoerente pelo fato de ter conhecido todo um comportamento dúbio deste candidato, achando bom o fato de não ter ido votar no primeiro turno, porque estando com mais de 70 anos, é um direito que tenho.
Agora no segundo tambem não irei, pois compareceria para anular o voto.
Ficou explicado?

Tavim disse...

Sei não. Acho que o Jonga é coerente com suas ideias. E esta coisa de dizer que sendo um time nunca se pode trocar!!! Pelo amor de Deus, daí é a mesma coisa, o que importa é o futebol!
Incoerente mesmo foi o PSTU.