domingo, 16 de outubro de 2016

Pensatas de domingo, ou o PT atropelado pelo trem da história



A situação do PT encontra-se numa encruzilhada. Claro que, em grande parte devido ao fato de haver se entregado à corrupção¹ sistêmica do capitalismo; pois é algo praticamente impossível, separar a simbiose entre o lucro e a desonestidade. A verdade é que este partido meteu os pés pelas mãos à medida em que o seu poder aumentava.
Isto forneceu armas poderosas para que a direita burguesa disparasse suas máquinas de guerra, por intermédio do poder midiático doméstico e internacional, além do apoio de sua bancada fascista no Congresso em Brasília.
E o ex-presidente Lula, o que fez a partir do ponto em que a situação não apresentava mais alguma chance de retorno? Comprovando a tese de que a melhor defesa é o ataque, atacou mesmo, com unhas e dentes, os seus opositores,
Usando o seu carisma e a facilidade em se comunicar com o povo, Lula conseguiu então manter incólume o seu perfil.
Entretanto a direita aproveitando-se de alguns escândalos, e com o apoio da mídia corporativa, conseguiu reverter este processo.

Lula, aliás, tem dado sinais de que escolheu o caminho que ele quer. Até porque ele ainda é o grande líder popular do Brasil. O PT que no início era um partido de intelectuais e operários, virou o partido das massas pobres. Tem um líder popular, se por um lado tipicamente latinoamericano, por outro de um novo tipo, porque é um retirante, um nordestino. Então temos este fenômeno que é o Lula. Porem não surgem Lulas com muita facilidade. Então o Lula vai ter um papel decisivo agora na reformulação do PT, na reativação dos movimentos sociais. Não é à toa que o presidente foi na festa de 10 anos da escola do MST.

E então falou: “Nós incorporamos à sociedade um conjunto de pessoas que viviam na miséria e que hoje teem um carrinho, um emprego, uma escola técnica, um “Minha Casa, Minha Vida”. De qualquer maneira, o ciclo de mudanças esgotou. Era um ciclo baseado no seguinte: numa aliança com a burguesia e num pacto com o Congresso Nacional. Esse pacto se esgotou. Ou o PT e os nossos governos estabelecem uma agenda de reformas populares para o Brasil, e essas reformas só serão feitas com um novo pacto político, não de aliança congressual, mas de movimento de massa, ou a gente faz uma política de reformas para o Brasil. E são as reformas urbana, política, da mídia, habitação, saneamento, trazer mais médicos cubanos, trazer especialistas de fora. Está fazendo, mas muito timidamente. Reforma sanitária, reforma na educação. A educação brasileira melhorou muito, mas, se você olhar para Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, nós estamos na idade da pedra. Precisamos de um conjunto de reformas que não será com Renan (Calheiros), com o PP, do Ciro Nogueira, essa turma. Tem que ter uma aliança congressual? Tem. E o linguajar deles não são reformas, são os cargos federais. É o patrimonialismo estatal. Isso existe. Não vamos ser hipócritas. O PSDB fez. Todos os governos fizeram. Nós estamos fazendo também. Qual o problema? É parte do jogo. Vamos parar de hipocrisia nessa merda. Nós fazemos aliança conservadora no Congresso. Agora reforma social só será feita nas ruas. Aqui no Rio estamos junto com o PCdoB, com o MST, com um conjunto de movimentos e criando um fórum popular pelas reformas e vamos para a rua. Vamos exigir reformas. Esse é o caminho do PT. Sem isso, nós vamos ser derrotados em 2018.”

Orgulhoso de seu passado, mas preocupado com seu futuro, o PT publicou, em fevereiro, o folheto “O Decênio que Mudou o Brasil”, que é mais um posicionamento de propaganda do que de análise; levando em conta seu título bastante grandioso e seu conteúdo acrítico, é razoável considerar que ele apresenta a versão mais otimista possível do que foram os dez anos de governos do PT no plano federal.
Toda sua argumentação se estrutura em torno da comparação desta década de governos do PT com todos os governos, desde FHC, e todos do período entre 1990 e 2002. Assim, afirma que o país retomou seu curso anterior aos governos neoliberais: os dez últimos anos mudaram o Brasil, permitindo reverter a decadência induzida pela rota da neocolonização neoliberal. O povo voltou a protagonizar mudanças, está ativo, recuperando a sua autoestima.

Além da comparação com o período imediatamente anterior, o impresso diz que “a nação emerge como uma das maiores democracias existentes, pronta para não mais ser liderada”, afirmando que “o Brasil de hoje já lidera um novo projeto de desenvolvimento mundial, cujo movimento amplo em torno da inclusão social se transforma na mola propulsora de inédita base para o desenvolvimento econômico ambientalmente sustentável”. Anuncia as perspectivas de o Brasil se tornar uma das quatro maiores economias globais, de ser o primeiro exportador de produtos agrícolas, e de, “ainda para a década de 2010”, superar a miséria e rebaixar os padrões de desigualdade “para níveis civilizados”.

O ex-presidente Lula, numa entrevista feita sobre o livro “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma” (Editora Boitempo, 2013) concedida a Emir Sader e Pablo Gentili  disse: “O necessário, o possível e o impossível”, e publicada no site Carta Maior, vinculado ao PT, aponta três grandes méritos em seu governo e no da sua sucessora: a) “provamos que era plenamente possível crescer distribuindo renda”; b) “provamos que era possível aumentar salário em inflação” (menciona especificamente o aumento do salário mínimo); c) “aumentamos nosso comércio exterior e nosso mercado interno sem que isto resultasse em conflito”. Sobre o caráter geral de seu governo, destaca que “todos ganharam”, inclusive “a oposição”, referindo-se, de forma um tanto quanto confusa, tanto à mídia quanto às classes dominantes.

Fica claro que, ao não compreender que a luta de classes é uma devoradora de homens e caracteres, o PT foi atropelado pelo trem da história.

1.    Uma postura acentuadamente anticorrupção ao longo de sua história, o PT decepcionou grande parte das massas que nisto acreditava.



2 comentários:

Joelma disse...

Olha, já fui Petista, mas juro que do Mensalão em diante comecei a olhar meio torta para o partido.
E também concordo contigo quando diz: "(...) ao não compreender que a luta de classes é uma devoradora de homens e caracteres, o PT foi atropelado pelo trem da história". Brilhante!
Outra coisa: acho que você se explicou muito bem ao justificar a sua mudança em relação a Freixo. Estou a pensar seriamente a também adotar essa postura!

Tavim disse...

BRAVÍSSIMO... Precisamos ter a coragem de mostrar o PT como ele é