Postado anteriormente no Pensatas em fevereiro de 2007.
Estava a responder uma postagem de “Papo de cachimbeiro” e lembrei-me de quando comecei a fumar cachimbo.
Foi em 1966, em Salvador. Ganhei dois cachimbos de um primo. Um era um Compass do tipo apple, que eu tenho até hoje, passados quarenta anos, o outro, também inglês, um billiard com a famosa marca Dunhill. Um cachimbo excelente, que, infelizmente o tempo destruiu.
O certo é que comecei a achar que jovem fumando cachimbo era meio pedante. Julgava que tinham que haver uns cabelinhos brancos para justificar o hábito. Deixei de fumá-los, mas, guardei as preciosas peças.
Em 1981 a minha pressão foi parar nas alturas. Bom, na ocasião eu fumava uns sessenta cigarros por dia, quase que acendia um no outro. Se acordasse à noite, a primeira coisa que fazia era, ainda sonolento, esticar o braço ao criado-mudo e puxar um cigarro do maço.
O médico, então, me aconselhou a deixar o vício, sob pena de piorar mais ainda e até morrer. Mas ele foi incisivo. Fiquei impressionadíssimo e lembro que quando saí do consultório, joquei a carteira de cigarros no primeiro lixo que encontrei.
A decisão fôra súbita e radical, mas resolví mantê-la a todo o custo. Inicialmente, comecei a comprar balas em profusão. Recordo que entrava na Kopenhagen e saía com sacos e mais sacos de guloseimas. Comecei a ficar com medo de virar um hipopótamo, pois se já era gordinho, chupando balas daquele jeito, sabe-se lá onde eu ia parar.
Um belo dia, me lembrei dos “velhos” cachimbos. Onde estavam?, pensei com os meus botões. Chegando em casa, perguntei à minha mulher se os havia visto. Ela, imediatamente disse que o Gustavo, nosso filho (então com uns quatro anos) os guardava numa caixa de brinquedos velhos. Gelei! Puz-me rapidamente a vasculhar a caixa à cata das preciosidades. Depois de muito revirá-la, os encontrei inteiros entre playmobis e legos esfacelados. O que me deixou feliz.
E limpá-los! Como? Não tinha nada em casa. Era noite. Peguei o carro e fui á procura de um lugar para comprar tabacos. Recordava-me de dois locais onde poderia encontrar: o Mercadinho Azul em Copacabana, e o Lamas no Flamengo. Achei que a segunda opção seria melhor para estacionar e me mandei pra lá.
Na tabacaria comprei um pacotinho de Bulldog, um de Tilbury e outro de Irlandês*. Procurei um importado, tipo Prince Albert, London Dock ou Half & Half, mas, infelizmente não havia nenhum. Um limpador de metal e uma embalagem daquelas de limpadores descartáveis de algodão completaram a minha aquisição. Chegando em casa, limpei os dois cachimbos com uma expectativa e dedicação imensas.
Depois, foi acender e fumar. Importante, sem tragar. As primeiras baforadas foram difíceis, mas logo me acostumei. Finalmente, com trinta e seis anos, e, principalmente alguns fios de cabelos brancos, eu podia me entregar às delícias de um cachimbo.
Daí em diante... bom daí em diante fica para outra vez. Afinal, essa história é muito longa.
(*) Bulldog e Tilbury eram então fabricados pela Souza Cruz, e Irlamdês era, e ainda o é pela Wilder Finamore.
Estava a responder uma postagem de “Papo de cachimbeiro” e lembrei-me de quando comecei a fumar cachimbo.
Foi em 1966, em Salvador. Ganhei dois cachimbos de um primo. Um era um Compass do tipo apple, que eu tenho até hoje, passados quarenta anos, o outro, também inglês, um billiard com a famosa marca Dunhill. Um cachimbo excelente, que, infelizmente o tempo destruiu.
O certo é que comecei a achar que jovem fumando cachimbo era meio pedante. Julgava que tinham que haver uns cabelinhos brancos para justificar o hábito. Deixei de fumá-los, mas, guardei as preciosas peças.
Em 1981 a minha pressão foi parar nas alturas. Bom, na ocasião eu fumava uns sessenta cigarros por dia, quase que acendia um no outro. Se acordasse à noite, a primeira coisa que fazia era, ainda sonolento, esticar o braço ao criado-mudo e puxar um cigarro do maço.
O médico, então, me aconselhou a deixar o vício, sob pena de piorar mais ainda e até morrer. Mas ele foi incisivo. Fiquei impressionadíssimo e lembro que quando saí do consultório, joquei a carteira de cigarros no primeiro lixo que encontrei.
A decisão fôra súbita e radical, mas resolví mantê-la a todo o custo. Inicialmente, comecei a comprar balas em profusão. Recordo que entrava na Kopenhagen e saía com sacos e mais sacos de guloseimas. Comecei a ficar com medo de virar um hipopótamo, pois se já era gordinho, chupando balas daquele jeito, sabe-se lá onde eu ia parar.
Um belo dia, me lembrei dos “velhos” cachimbos. Onde estavam?, pensei com os meus botões. Chegando em casa, perguntei à minha mulher se os havia visto. Ela, imediatamente disse que o Gustavo, nosso filho (então com uns quatro anos) os guardava numa caixa de brinquedos velhos. Gelei! Puz-me rapidamente a vasculhar a caixa à cata das preciosidades. Depois de muito revirá-la, os encontrei inteiros entre playmobis e legos esfacelados. O que me deixou feliz.
E limpá-los! Como? Não tinha nada em casa. Era noite. Peguei o carro e fui á procura de um lugar para comprar tabacos. Recordava-me de dois locais onde poderia encontrar: o Mercadinho Azul em Copacabana, e o Lamas no Flamengo. Achei que a segunda opção seria melhor para estacionar e me mandei pra lá.
Na tabacaria comprei um pacotinho de Bulldog, um de Tilbury e outro de Irlandês*. Procurei um importado, tipo Prince Albert, London Dock ou Half & Half, mas, infelizmente não havia nenhum. Um limpador de metal e uma embalagem daquelas de limpadores descartáveis de algodão completaram a minha aquisição. Chegando em casa, limpei os dois cachimbos com uma expectativa e dedicação imensas.
Depois, foi acender e fumar. Importante, sem tragar. As primeiras baforadas foram difíceis, mas logo me acostumei. Finalmente, com trinta e seis anos, e, principalmente alguns fios de cabelos brancos, eu podia me entregar às delícias de um cachimbo.
Daí em diante... bom daí em diante fica para outra vez. Afinal, essa história é muito longa.
(*) Bulldog e Tilbury eram então fabricados pela Souza Cruz, e Irlamdês era, e ainda o é pela Wilder Finamore.
8 comentários:
Uma cachimbada da paz neste domingo eleitoral. Você, ainda que jovem de espírito e lúcido como sempre, já está apto a entrar, para pagar seus 'papagaios', na fila dos idosos dos bancos e demais repartições, o que considero um alívio, meu caro João Carlos Alves Olivieri, neto de pessoa ilustre, que a tenho aqui registrada num dicionário de personalidades baianas, qual seja a historiadora Marietta Alves, mãe de sua mãe, e, em conseqüência, de suas tias também.
O cachimbeiro clássico enquanto 'executa' o seu cachimbo põe-se, geralmente, a pensar, olhos fitos no chão, ou, então, nos bicos dos sapatos e das chinelas caseiras. Muitas vezes, absorto, a degustar o bom fumo, olha para o horizonte.
Estaria a pensar em quem votar? Sei que não votaria em Eduardo Paes, que, mais uma vez a citar Hélio, este o chamou, nesta semana, de débil mental.
Creio que você edita bem esta 'Pensatas', a considerar que é versátil nos seus 'posts', nunca a perder o humor, o imprescindível senso de humor sem o qual as pessoas passam a ser, como diz bem a expressão em espanhol, "graves e tontas".
A cachimbada deste domingo é de paz, portanto. Antigamente, naqueles westerns B, falava-se muito em cachimbo da paz. A expressão, no entanto, tornou-se um tanto obsoleta nestes tempos de Orkut e MSN, de globalização, de fim de mundo, de quebradeira geral, da perda completa do respeito humano, e, em conseqüência, da ausência absoluta do humanismo.
Fumar cachimbo é uma arte.
E eu me delicio com estes teus papos de cachimbeiro.
Sai de casa, após minha (sagradíssima) cachimbada matinal para anular o meu voto. E estava a dizer a minha mulher o quanto isto é uma perda de tempo.
A questão do voto obrigatório é meio polemica no Brasil. Até porque alguns dizem que a desobrigatoriedade estimularia a fraude.
Outrossim, o chamado "voto útil" tornou-se um problema muito sério. Votar em Paes para barrar Gabeira... ou em Gabeira para não favorecer Paes? Desta vez a coisa ficou muito difícil. O voto em qualquer um deles (caso ganhe) é remorso para o resto da vida.
Daí, entre baforadas e rosquinhas de fumaça, firmei o meu ponto de vista de que o VOTO NULO é o melhor caminho. Pelo menos aqui por terras da Guanabara...
"Papos de cachimbeiro" é um dos assuntos que mais gosto de escrever e publicar.
E até de re-publicar!
Encontro, neste domingo, alguns verbetes sobre o ato de cachimbar. Na verve de Eça de Queiróz, as "(...)Imagens do avô, do avô vivo e forte cachimbando ao canto do fogão (...)", já Graciliano Ramos evocando a natureza, diz" Os paus-d'arco floridos, salpicavam a mata de pontos amarelos, de manhã a serra cachimbava(...) Cada um escolhendo o cachimbo ao seu estilo e elegância, todos êles aspirando os fluídos de um tempo passado. Se fumar cachimbo é uma arte como diz a guachesca, esta arte hoje está em declínio. Pobre de nossos avós e das serras das matas de pontos amarelos.
Vou votar... passei do horário. Um abraço Jonga.
Sinal dos tempos. Veja bem, Stela, hoje o ato de fumar está em questão.
Há alguns anos atrás, cachimbar era um hábito elegante, ou pelo menos particular. Hoje... bem, fumo em casa... ou levo minha pipa quando viajo, mas pito no quarto do hotel, no meu canto... quietinho.
Na década de setenta havia tabacarias por todos os lados da cidade. De repente você encontrava uma que nunca tinha visto. Hoje... sei as poucas que têm e onde estão. Cachimbo é coisa do passado. “Coi de véio!!!”
O fato é que cachimbar é uma atitude completamente diferente de fumar um cigarro. No caso deste último, eu nem me lembrava quando o acendia. O cachimbo, tem-se que saber qual vai usar, o tabaco que vai fumar – porque sempre se tem mais de um – e existe todo um ritual para acende-lo.
Ainda acho elegante um homem fumando cachimbo. Embora concorde que hoje cada vez se vê menos.
Mas me passa uma idéia de reflexão e sabedoria.
O anti-tabagismo é uma doença bem mais grave do que o tabagismo. Tanto que foi implantada na Alemanha nazista e prosseguiu a partir dos Estados Unidos imperialista...
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