Postagem originalmente publicada no “Pensatas” em 16 de outubro de 2007.
“Dentro da globalização tem-se a tendência a flexibilizar a produção, espalhando a produção por várias partes do globo. Dessa forma, uma das conseqüências da globalização é dar novo destino ao espaço, que pode se valorizar, revalorizar ou desvalorizar, mas em qualquer um dos casos criando um novo (referencial) simbólico".
“Dentro da globalização tem-se a tendência a flexibilizar a produção, espalhando a produção por várias partes do globo. Dessa forma, uma das conseqüências da globalização é dar novo destino ao espaço, que pode se valorizar, revalorizar ou desvalorizar, mas em qualquer um dos casos criando um novo (referencial) simbólico".
(Heitor Ney Mathias, economista, em "As ruínas da cidade industrial).
A etapa globalizada do capitalismo “pós-moderno”, em plena “barbárie”, mostra uma coisa que de há muito se suspeitava: o capital não tem mais pátria.
Contraditoriamente, surgindo nos burgos (um burgo designa uma cidade comercial, que se desenvolvia fora das muralhas do núcleo urbano primitivo, senhorial), a burguesia organizou-se a partir da Idade Média, culminando na formação de países e nações, tais como os conhecemos hoje.
O feudalismo tinha uma composição muito distinta de nações (um feudo é uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo em troca de obrigações de fidelidade mútua). Os “países” eram aglomerados de feudos que se identificavam através de língua e costumes, muito mais do que por sentimentos patrióticos. As guerras eram muito mais religiosas, e, quando entre feudos, apenas para a ampliação daqueles que buscavam crescer. A partir da revolução burguesa, particularmente na Inglaterra e na França, o sentimento patriótico começou a se incorporar à ideologia burguesa e seus interesses econômicos mais imediatos. O conceito nação, tal e qual o conhecemos, começou a se consolidar então.
Mas, a burguesia, ao alcançar a sua etapa imperialista, iniciou uma transformação gradual em que ao capital, não havia mais o interesse em se manter aprisionado a fronteiras. Curiosamente, Karl Marx previa a necessidade de uma revolução proletária ser de cunho internacionalista, baseado no fato de que os interesses desta classe explorada não tinham fronteiras nacionais. Outrossim, naquela época, à burguesia era necessàrio manter pátrias para defender suas propriedades. Todavia, Marx não chegou a presenciar o desenvolvimento do capitalismo em sua etapa imperialista, tendo ele morrido antes deste acontecimento.
Coube aos pensadores do Materialismo Histórico entre finais do século XIX e início doXX viver este período. Vladimior Ilitch Ulianov (Lenin), escreveu em 1916 “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, no qual já apontava distorções no comportamento da burguesia, como a do empresário Basil Zaharoff, que, numa guerra entre a Turquia e a Rússia czarista, armava simultaneamente os vasos de guerra de um dos países, e a defesa costeira da outra. Era um marco do capitalismo sem pátrias nem bandeiras. E uma nova forma de lucro incessante.
Hoje, Zaharoffs existem às centenas. A internacionalização do capital, retirou completamente da burguesia os interesses nacionais, o que pressupõe a existência de uma “Internacional Capitalista”. Por outro lado, a formação das elites operárias nos países mais desenvolvidos, criou um sentimento nacionalista no proletariado. Um nó górdio no pensamento de Marx. Um novo desafio aos caminhos das mudanças sócio-econômicas que podem propiciar o fim da exploração do homem pelo homem.
A atrofia da praxis, pós-Marx, gerado principalmente através do poder exercido pela burocracia soviética, também colaborou para que saídas para esta “arapuca” se tornassem mais difíceis. No século XX, alguns pensadores Materialistas Históricos independentes reposicionaram a questão, mas, suas palavras foram difíceis de ser ouvidas, abafadas tanto pela burguesia, quanto pela momenkatura na URSS. Sempre me refiro ao livro de Michael Lowy e Daniel Bensaid, intitulado: “Marxismo, modernidade, utopia”, uma publicação da Xamã Editora, que faz uma análise muito atual da situação. E que merece ser lido por quem tenha algum interesse pelo assunto.
Enquanto isso, temos que tentar sobreviver, na “barbárie” do sistema vigente, sabendo que os “capitalistas de todo o mundo estão unidos”. Se é que isto seja mesmo possível. E aí, a principal contradição de um internacionalismo impossível de se consolidar.
O texto de abertura foi extraído da coluna de Pedro Porfírio (15/10/2007) na Tribuna da Imprensa.
A etapa globalizada do capitalismo “pós-moderno”, em plena “barbárie”, mostra uma coisa que de há muito se suspeitava: o capital não tem mais pátria.
Contraditoriamente, surgindo nos burgos (um burgo designa uma cidade comercial, que se desenvolvia fora das muralhas do núcleo urbano primitivo, senhorial), a burguesia organizou-se a partir da Idade Média, culminando na formação de países e nações, tais como os conhecemos hoje.
O feudalismo tinha uma composição muito distinta de nações (um feudo é uma porção de terra concedida por um senhor a um vassalo em troca de obrigações de fidelidade mútua). Os “países” eram aglomerados de feudos que se identificavam através de língua e costumes, muito mais do que por sentimentos patrióticos. As guerras eram muito mais religiosas, e, quando entre feudos, apenas para a ampliação daqueles que buscavam crescer. A partir da revolução burguesa, particularmente na Inglaterra e na França, o sentimento patriótico começou a se incorporar à ideologia burguesa e seus interesses econômicos mais imediatos. O conceito nação, tal e qual o conhecemos, começou a se consolidar então.
Mas, a burguesia, ao alcançar a sua etapa imperialista, iniciou uma transformação gradual em que ao capital, não havia mais o interesse em se manter aprisionado a fronteiras. Curiosamente, Karl Marx previa a necessidade de uma revolução proletária ser de cunho internacionalista, baseado no fato de que os interesses desta classe explorada não tinham fronteiras nacionais. Outrossim, naquela época, à burguesia era necessàrio manter pátrias para defender suas propriedades. Todavia, Marx não chegou a presenciar o desenvolvimento do capitalismo em sua etapa imperialista, tendo ele morrido antes deste acontecimento.
Coube aos pensadores do Materialismo Histórico entre finais do século XIX e início doXX viver este período. Vladimior Ilitch Ulianov (Lenin), escreveu em 1916 “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, no qual já apontava distorções no comportamento da burguesia, como a do empresário Basil Zaharoff, que, numa guerra entre a Turquia e a Rússia czarista, armava simultaneamente os vasos de guerra de um dos países, e a defesa costeira da outra. Era um marco do capitalismo sem pátrias nem bandeiras. E uma nova forma de lucro incessante.
Hoje, Zaharoffs existem às centenas. A internacionalização do capital, retirou completamente da burguesia os interesses nacionais, o que pressupõe a existência de uma “Internacional Capitalista”. Por outro lado, a formação das elites operárias nos países mais desenvolvidos, criou um sentimento nacionalista no proletariado. Um nó górdio no pensamento de Marx. Um novo desafio aos caminhos das mudanças sócio-econômicas que podem propiciar o fim da exploração do homem pelo homem.
A atrofia da praxis, pós-Marx, gerado principalmente através do poder exercido pela burocracia soviética, também colaborou para que saídas para esta “arapuca” se tornassem mais difíceis. No século XX, alguns pensadores Materialistas Históricos independentes reposicionaram a questão, mas, suas palavras foram difíceis de ser ouvidas, abafadas tanto pela burguesia, quanto pela momenkatura na URSS. Sempre me refiro ao livro de Michael Lowy e Daniel Bensaid, intitulado: “Marxismo, modernidade, utopia”, uma publicação da Xamã Editora, que faz uma análise muito atual da situação. E que merece ser lido por quem tenha algum interesse pelo assunto.
Enquanto isso, temos que tentar sobreviver, na “barbárie” do sistema vigente, sabendo que os “capitalistas de todo o mundo estão unidos”. Se é que isto seja mesmo possível. E aí, a principal contradição de um internacionalismo impossível de se consolidar.
O texto de abertura foi extraído da coluna de Pedro Porfírio (15/10/2007) na Tribuna da Imprensa.
6 comentários:
Uma vez eu li ( não sei aonde ) que as sedes das multinacionais poderiam ser em plataformas no meio do oceano. Acho que isso está se tornando muito mais real do que imaginamos.
Acho que foi aqui mesmo,não JR?
Lembro que na primeira vez que postei este artigo surgiu um papo desses.
E me recordo bem do fato, até porque levantei esta questão. Também porque acho isso mesmo. Hoje eles desejam estar gerindo seus lucros de fora para dentro.
Sem o menor envolvimento ou culpa!
É. O capital não tem pátria. Isso é verdade nos dias que passamos.
Hoje não importa onde estar, o importante é lucrar, seja aqui, como lá.
Rimou eu sei, mas minha intenção não era essa. Apenas afirmar que concordo com o seu raciocínio.
Mais uma vez não fui a primeira a postar um comentário neste blog. Não há de ser nada. O importante é comentar.
Havia lido essa sua postagem no antigo Pensatas. E concordo no tocante à evolução do sistema em direção ao final de suas fronteiras nacionais.
Para as classes dominantes já não existem mais países, mas apenas interesses que estão muito acima disso.
Apesar de a burguesia ter nascido a partir da formação de nações como as que conhecemos atualmente, para ela isto é coisa do passado.
E quando o Jr diz que poderiam estar em "plataformas no meio do oceano" falou mais do que a verdade.
Graaaaandeeee, Mary Beauty.
E é isso aí mesmo. Você a cada dia me surpreende mais.
Seus comentários sempre serão bem vindos neste blogue, cheguem primeiro ou não.
'Zuletzt' serão os 'vorderst', minha 'lieb' 'fraulien' Schimidt!
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