domingo, 5 de outubro de 2008

Mercenários no Iraque

Vou iniciar a postagem de artigos publicados no “Pensatas”, nos domingos (em que não houver “Domingueiras”). Este (1) foi publicado em outubro de 2007.

Existem hoje entre 100 mil e 130 mil (2) “soldados privados” (termo preferido pelas companhias que os empregam), a maioria em atividades ligadas à segurança e à defesa. O total é quase o equivalente aos 145 mil soldados estadunidenses atualmente no país. Esses assassinos profissionais agem totalmente sem regras. Diferentemente dos soldados, que têm que responder a um código de conduta, os “privados” se encontram numa zona juridicamente “cinzenta”. Até 2007, eram regulamentados pela “Ordem 17”, assinada em junho de 2004. Pela disposição, nunca revogada, “os privados devem ser imunes ao processo legal iraquiano em relação às ações realizadas por eles enquanto a serviço de empresas.”
Essas sociedades comerciais, chamadas de Private Military Companies (PMC), não fossem as formalidades e as cláusulas dos contratos sociais de constituição - que as colocam na legalidade como pessoas jurídicas -, poderiam ser confundidas e passar por associações hierarquizadas de mercenários. As PMC’s são muito requisitadas pelos grupos econômicos que exploram, em todo o Terceiro Mundo, rendosas atividades. Os referidos grupos sentem a necessidade de proteger a posse de áreas e os seus prepostos. Entre outros casos de empresas de violentos mercenários, a Military Professional Resources Inc., que treinou e monitorou os bandos armados de separatistas da ex-Iugoslávia e que atua até hoje no combate à guerrilha na Colômbia.
Com base em dados do próprio governo do Iraque, existem 236 companhias de segurança privada, estrangeiras e iraquianas, atuando no país. Destas, cerca de 200 são consideradas ilegais, por não terem registro e assumirem “funções” desconhecidas. A maioria está implicada em ações terroristas que são colocadas na conta da resistência iraquiana.
Não importa sua origem; são mais de 100 mil homens bem adestrados no ofício de matar por dinheiro... Suas obrigações laborais estão focadas na segurança pessoal de políticos iraquianos e ianques, de homens de negócio e na segurança de instalações petroleiras e militares. Muitos destes serviços, de que pouco se fala, estão ligados à construção de bases, interrogatórios e combates diretos. Eles são acusados de intervir em operações secretas dos organismos de inteligência dos EUA e em outros trabalhos sujos destinados a promover o terror, o medo, as diferenças religiosas e, inclusive, a organização de esquadrões da morte para semear o caos... São elementos especializados nas tenebrosas artes da subversão.
Todas estas “empresas privadas” são orientadas pela CIA. Em 2005, oficiais da referida agência revelaram que cerca de 50% do seu orçamento (quase US$ 20 bilhões), foram destinados para pagar os “contratistas”. A própria CIA estima que as despesas com estes serviços dobrem até 2010.
O uso destes “serviços” cresceu a partir das dificuldades encontradas pelos militares dos EUA no Iraque. O número de mercenários pulou de 48 mil “soldados privados”’, em 2003, para os mais de 100 mil nos dias atuais. A utilização destes grupos serve ainda para reduzir as estatísticas oficiais de baixas desde a invasão do país. O Departamento do Trabalho dos EUA estima que mais de 650 “funcionários” foram mortos pela resistência iraquiana. Para o Exército e o governo dos EUA o negócio é muito vantajoso. Os mercenários são simples assalariados em busca de fortuna, quando morrem não engrossam a lista oficial de baixas na guerra, não estão envolvidos em discussões legais e nem são alvo da pressão pública.

1. Este artigo originou uma série de ameaças por parte de grupos de direita ao bloguista.
2. Dados extraídos de matéria da Folha Online, também de outubro de 2007.

8 comentários:

André Setaro disse...

A crise que ora se abate sobre a economia mundial, apesar dos pesares, mostra, por a + b, que o mercado não é capaz de solucionar, sozinho, seus próprios impasses. Cai, portanto, a mistificação do "Mercado-Deus". Na hora da agonia, o socorro vem do Estado, abstração que simboliza todos os cidadãos de uma nação. Socorre-se aqueles que perderam dinheiro na jogatina para a preservação do "system". Mas o cidadão comum, mesmo americano, não joga, mas trabalha, e, mesmo assim, tem que pagar com o suor de seu rosto as perdas do jogo. Apenas l% (sim, um por cento) da população joga na bolsa em termos mundiais. O neo-liberalismo faz "água". Que a crise possa abrir perspectivas para um controle mais efetivo dessa ânsia pelo dinheiro. Mas seria preciso, para das cinzas surgir uma esperança, um verdadeiro caos e muito sofrimento para, a partir de então, estabelecer-se novas bases na economia. Mas o homem, assim é se me parece, não tem mesmo jeito.

Jonga Olivieri disse...

Tenho acompanhado alguns debates na TV sobre o assunto.
Outro dia, no dia em que o senado aprovou o tal pacote do Bush, assisti a um na Record News em que um dos economistas dizia que é necessária uma adequação do capitalismo a posições mais humanistas (ou seriam humanitaristas?).
Seria utópico pensar que a burguesia vá renunciar a seus privilégios. Todavia, o novo laissez-faire originado pela economia de livre auto-regulamentação do mercado pelo mercado levou o seu cheque-mate. Em outras palavras: o neoliberalismo está com os seus dias contados.
No pós 1929, surgiram Franklin D. Roosevelt e a social democracia européia. Países como a Inglaterra ou a Suécia, socializaram as suas medicina e a educação. O seguro social ampliou-se sobremaneira propiciando ao cidadão comum vantagens que não eram possíveis antes disso.
Hoje, o capitalismo reina soberano e sem ameaças diretas à sua existência, a não ser essas contradições inerentes à sua própria forma de existir como sistema; uqe marcam o quanto está saturado e se esgotou como sistema.
Pode ser que alguma coisa aconteça em prol de uma melhora neste sentido. É uma questão de sobrevivência e uma forma de evitar o cáos social total.

Ieda Schimidt disse...

Estou saindo mais cedo (para votar), portanto vou te enviar este comentário sobre esta postagem antiga, porém tão atual.
A privatização da guerra é muito oportuna para o império. Não sacrificar mais os memininhos comedores de hamburgers, evita o que se sucedeu no Vietnã, quando o consumo de drogas cresceu assustadoramente em função do despreparo e do choque.
Os números impressionam (até porque hoje devem ser maiores) quando quase se equiparam aos soldados do exército regular.
É a guerra do século XXI. Uma guerra em que se ganha dinheiro com ela em todos os segmentos.
Quando dizem que Bush afundou os Estados Unidos com ela eu me rio.
Esta guerra é tão somente fonte de lucros, seja no petróleo, seja neste sentido, para as empresas que privatizaram o genocídio americano.

Anônimo disse...

É um exército de grandes proporções mesmo!

Jonga Olivieri disse...

Também sai cedo para votar, acabei de chegar em casa e vi o seu comentário, Ieda.
O complexo industrial militar não joga pra perder e vão sempre lucrar com as guerras aqui e alí.

Jonga Olivieri disse...

Põe tamanho nisso, JR. Além do mais não somente os números precisam ser atualizados como neles não constam os de outras "guerrinhas" que têm por aí.

Anônimo disse...

É alarmante o número de soldados particulares (podemos dizer assim) que existem nessa guerra.
Será que a intenção é em futuro breve só lutarem com eles e abandonarem as forças armadas regulares?

Jonga Olivieri disse...

Creio que sim, Mary.
É o que chamam de "exército profissional".