quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saldos da guerra

Já está a se aproximar de cinco mil o número de soldados estadunidenses mortos no Iraque. Isto, naturalmente sem contar os de aluguel – aqueles das empresas de segurança – que naturalmente não são computados.
O Pentágono e a Casa Branca fazem o possível e o impossível para evitar a divulgação de imagens ou mesmo notícias sobre o fato. Isso porque as lições do Vietnam foram bem assimiladas. Naquela guerra, assistia-se tudo ao vivo. E as transmissões pesaram muito junto à opinião pública. É notório que a oposição à guerra na Ásia deveu-se muito a imagens e à permissividade noticiosa naquele período.
Ainda mais agora, às vésperas das eleições, com o curso da crise econômica (que insistem em classificar como apenas financeira), não lhes interessa de forma alguma que os números dos últimos cinco anos estejam no ar. O fato é que as estatísticas já superam a média de mortos em todo o período do conflito no Vietnam.
Enquanto ali tombaram 46.000 em mais de 16 anos (1959/75), no Iraque a coisa está um pouco mais feia. Por quê? Simplesmente pelo fato de que a evolução de décadas da tecnologia da guerra, evita que os combatentes entrem em combate. Dito assim parece uma contradição, mas não é. Hoje, tropas simplesmente não se envolvem em direto num conflito. Principalmente quando as forças oponentes não são convencionais. O apoio de helicópteros e mísseis, são estratégicos neste sentido.
No entanto, o saldo da guerra é catastrófico para os Estados Unidos. Após a derrota no Vietnam, a potência imperial encontra-se mais uma vez numa encruzilhada em uma guerra que, pensaram, seria um passeio. A população não quer mais os seus “rapazes” tombando no deserto, como aconteceu nas florestas da Indochina. Por outro lado, está difícil recuar.
Resta privatizar a guerra, por intermédio das empresas de segurança. Como a Blackwater e outras.

15 comentários:

André Setaro disse...

Sobre ser uma idéia de acordo com a "reengenharia" do mundo que se quer "pós-moderno", a privatização da guerra nos oferece uma impressão de crueldade maior, posto que inserida no bojo de um capitalismo ainda mais selvagem. Os Estados Unidos se envolveram numa beco sem saída, e os americanos não querem mais que seus filhos sejam mortos num conflito bélico inútil como o do Iraque. O país, destruído pela sanha yanque, perdeu muitas relíquias culturais. É uma terra arrasada. A proposta de implantação de uma "democracia" é uma bela desculpa esfarrapada, mesmo porque a cultura do povo iraquiano é outra. Na verdade, a pretexto da existência de armas atômicas, os Estados Unidos foram roubar o petróleo iraquiano. E o pretexto de derrubar uma ditadura é completamento falso, a considerar que os EUA são pioneiros como incentivadores de ditaduras sanguinárias, a exemplo das que vigoraram na América do Sul dos anos 60 e 70. Henry Kissinger, o Nobel da "Paz" é a eminência parda, para ficar num só exemplo, do golpe chileno de 1973 e 'promoter' do monstro pinochetiano.

Anônimo disse...

Acompanho com certa assiduidade este blog. Digo, desde o anterior.
E referente a Guerrra no Iraque, suas opiniões publicadas tem sido interesantes, até porque as tropas de exércitos particulares vão assumindo cada dia que passa um peso cada vez maior.
Eduardo Caneto (São Paulo)

Ieda Schimidt disse...

As transmissões de Tv durante a Guerra do Vietnam, de fato pesaram na geração de uma oposição contra aquele confronto.
Veja bem, assistir seu piá, criado com muito Corn Flakes, morrendo na sua frente ao vivo e a cores, é algo dramático. E foi o que aconteceu.
O governo Bush tomou medidas no sentido de evitar este embate com os eleitores.
Já é baixa, mas tentemos imaginar como estaria a popularidade dele caso não tivesse sido radical neste sentido?

Jonga Olivieri disse...

A privatização da guerra é hoje o assunto mais importante, em nível de mudanças para o futuro.
Para tal, o Império já está a formar uma nova idéia de que "mercenários" são melhores do que "terroristas".
Há pouco tempo postei aqui um artigo em que falo de um Sci-Fi que tenta levar nossas cabeças para esta conclusão.
Foi no dia 29 de setembro, com o título de "Mercenários e/ou terroristas" e o filme era "Operação Babilônia".

Jonga Olivieri disse...

No comentário anterior, em resposta ao André, digo o que penso em relação à questão da privatização das forças armadas.
O ponto mais favorável a eles, é justamente que a partir deste momento, quem vai a guerra é porque é profissional.
O exército de "amadores" está com os seus dias contados.

Jonga Olivieri disse...

Gostei muito de "... assistir seu piá, criado com muito Corn Flakes, morrendo na sua frente ao vivo e a cores...". Valeu!!!

Anônimo disse...

Cada vêz penso mais objetivamente sobre esta "guerra privada", como você bem definiu. Isso era uma coisa que nem me passava pela cabe'ca antes de tomar contato como os seus artigos. Mas está aí evidente, crua, real. E é muito oportuna para os governso não se tornarem impopulares, porque quem vai está recebendo para aquela finalidade e não consta como baixa oficial.

Jonga Olivieri disse...

Exato, esse é o espírito da coisa, JR!

Anônimo disse...

Acho que está se tornando irreversível; Está ficando cada vez mais clara essa tendência ao chamado exército privado.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

O exército privado é a única saída para o Império abrir as suas asas sobre o mundo...

Anônimo disse...

Olha Jonga, você tem sido muito coerente e informativo em suas análises sobre a Guerra do Iraque.
Não que não tenham outras. Têm, e excelentes, mas acontece que eu despertei muito para a política a partir do Pensatas. Dizendo assim não dá para acreditar, mas é a mais pura verdade.
Há pouco mais de um ano eu compreendia muito menos o processo internacional. E mesmo o nosso,aqui no Brasil. Hoje estou me inteirando cada vez mais de tudo isso. tenho lido muito, é certo, mas partiu do Pensatas, acredite.
Ach que este seu post sobre a guerra em curso é muito esclarecedor. Como tem sido esclarecedora a sua denúncia sobre o exército privado, as Blackwaters da vida.

Stela Borges de Almeida disse...

O mais visível de todos os conflitos atuais – a guerra no Iraque – retoma, contra a vontade de seus arquitetos originais (George Bush, Dick Cheney e Donald Rumsfeld ) o princípio básico de que as grandes democracias de massa do Ocidente não toleram a perda de vidas e as populações voltam-se contra seus governos ( caso não consigam vencer rapidamente uma guerra ). Tal axioma, muitas vezes chamado de Síndrome do Vietnã, em virtude da repulsa da população contra aquela guerra ( 1964-1975 ) não explica tudo. Em verdade, tanto no Vietnã, nos anos 1960, quanto hoje no Iraque, o governo americano não soube explicar – por não haver mesmo explicação – a razão de lançar tamanha panóplia militar contra um pequeno país.

O extrato do texto acima do professor titular de Historia Moderna e Contemporânea,Francisco Teixeira da Silva, publicado pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da FGV/RJ, evidencia a complexidade da temática. As explicações para a selvageria yanque naquele pequeno país são inqualificáveis. Considero o tema abordado por êste blog da maior relevância e tenho acompanhado os comentários. Uma vez que especialistas no assunto tem-se debruçado com maior propriedade na investigação do conflito, limito-me a buscar acompanhar estas análises.

Jonga Olivieri disse...

Sou testemunha do quanto você amadureceu desde que começou a comentar neste blogue.
Mas, sem dúvida nenhuma isto deveu-se ao seu esforço pessoal em buscar informações e mesmo a sua formação.
Em todo o caso, agradeço sua palavras, Mary.

Jonga Olivieri disse...

O professor Francisco Teixeira da Silva citou um dado importante, quando refere o fato de os EUA estarem novamente a se complicar com países menores do que eles em tamanho e poder.
O Vietnam obteve uma vitória de "David contra Golias". Caso não consigam se impor no Iraque a história vai se repetir num curto espaço de tempo.

Jonga Olivieri disse...

Curiosamente o provedor deste blogue já entrou no horário de verão.